Entrevistado do mês pelo CINEBULIÇÃO:
Caíque Gonçalves
Jornalista Freelancer e Analista de Mídias Sociais. Pós-graduando em Comunicação Corporativa.
Atualmente é editor do Aplausus! e repórter do Fique Ligado.
COMO JORNALISTA, VOCÊ ESTÁ EM CONTATO O TEMPO INTEIRO COM FATOS E EVENTOS DE DIVERSOS LUGARES. NESSE SENTIDO, É MAIS FÁCIL ESCREVER SOBRE CINEMA, OU NÃO, A CRÍTICA INDEPENDE DA SUA RELAÇÃO COM ESSA GAMA DE INFORMAÇÕES?
De forma alguma. Pelo fato de me relacionar constantemente com pessoas e acontecimentos de forma profissional, essa bagagem não interfere diretamente na crítica em si, mas é fundamental de forma indireta no estabelecimento de correlações e em um maior conhecimento de mundo tanto teórico quanto empírico. Porém não considero que a crítica seja realizada só pelos jornalistas. Outras áreas de atuação como Letras, História e Cinema, por exemplo, proporcionam também conhecimento importantes, cada um a sua forma, na construção e uma crítica cinematográfica.
VOCÊ ACREDITA QUE A MÍDIA ESPECIALIZADA – IMPRESSA OU NÃO – É A ÚNICA RESPONSÁVEL PELO SUCESSO DE BILHETERIA E PÚBLICO DOS CHAMADOS “FILMES BLOCKBUSTER”?
A mídia especializada, não. Acredito que o sucesso dessas produções são fomentadas pelos veículos de comunicação de massa como um todo. Inclusive algumas publicações impressas, sobretudo revistas como a Cult e a Bravo! Fazem esforços vai de encontro a essa ideia. Não vejo problema algum em superproduções bem feitas fazerem o sucesso. O problema é quando filmes independentes e de baixo orçamento, por conta disso, não têm seu espaço no circuito comercial. Com a popularização da internet vemos cada vez mais a procura por filmes ditos como “alternativos”.
ANALISANDO O TIPO DE PÚBLICO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO QUE TEMOS HOJE, PODE-SE AFIRMAR QUE O CINEMA NACIONAL TENDE A CRESCER EM BOAS PRODUÇÕES OU ESTACIONARÁ NA PLATAFORMA DOS “FILMES FÁCEIS” PARA GARANTIR O PÚBLICO?
A formação de uma plateia cinematográfica que se interesse por produções mais maduras não deve ocorrer a curto prazo. Herança ainda das pornochanchadas, que ainda influenciam algumas produções nacionais. Mas é notável a evolução do cinema nacional de meados da década de 90 para cá. Destaque para ótimos diretores como José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles que dão um sopro de criatividade e qualidade no nosso cinema atual.
TRUFFAUT DISSE NÃO ACREDITAR NA NOMENCLATURA “CINEMAS NACIONAIS”, COM EXCEÇÃO DO CINEMA SOVIÉTICO DOS ANOS 20 E DO EXPRESSIONISMO ALEMÃO. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE ISSO? HÁ OU NÃO UMA CARACTERÍSTICA NATA E INDISSOCIÁVEL NOS “CINEMAS NACIONAIS”?
Concordo. Os ditos cinemas nacionais que tanto falamos atualmente são na verdade uma questão metodológica e pragmática a fim de considerarmos as produções cinematográficas de determinados países. Tem mais a ver com um caráter econômico e cultural do que estético.
A INFLUÊNCIA DO CINEMA ORIENTAL NO OCIDENTE É MUITO GRANDE. PARA VOCÊ, QUAIS AS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS ORIENTAIS RECEBIDAS PELO OCIDENTE?
Sem dúvida. Não há uma característica específica que represente a influência do Oriente no cinema ocidental. São várias, tais como a utilização da violência a serviço da estética, o surrealismo, no qual a construção de uma história crível como uma de suas principais preocupações. Outra característica é a valorização de pequenos detalhes, sobretudo elementos da paisagem natural nipônica, para criar um clima único.
VOCÊ É EDITOR DO BLOG “APLAUSUS”. ESCREVER CRÍTICA DE CINEMA PARA UM BLOG E ESCREVER PARA UM JORNAL OU REVISTA, POR EXEMPLO, É A MESMO COISA, OU A MUDANÇA DAS MÍDIAS ALTERA O SEU MODO DE TRABALHAR?
Cada veículo de comunicação requer que você escreva de uma forma distinta. Ao escrever para internet não é interessante publicar textos muito longos e é importante equilibrar um texto objetivo com considerações e opiniões que não cabem em uma revista ou jornal, por exemplo. Além da possibilidade de complementar as informações veiculadas no seu texto com vídeos, áudios e informações provenientes de outros sites.
PASSADA A FEBRE O DO OSCAR 2011, A PERGUNTA QUE ANGUSTIA A MUITOS CINÉFILOS: VOCÊ ACREDITA QUE A ACADEMIA EMPREENDEU A TÃO GRANDE MUDANÇA ANUNCIADA NO ANO PASSADO OU NÃO? HÁ ALGUMA TENDÊNCIA, ALGO RECORRENTE NAS ESCOLHAS DESSES ÚLTIMOS ANOS?
O Oscar é especial para que ama o cinema. Independente do que aconteça e quais filmes sejam prestigiados nos anos anteriores é difícil alguém deixar de acompanhar a cerimônia porque é antes de tudo uma celebração da sétima arte, embora a arte cinematográfica, na maioria das vezes, seja impedida de pisar no tapete vermelho. Quantos diretores geniais e filmes fundamentais para a história do cinema não conquistaram uma estatueta sequer? Muitos. A academia é excessivamente conservadora. Inovações não são bem recebidas e isso tem sido constatado nas últimas premiações. Além de não valorizar quem realmente faz a diferença torna a festa monótona e sem surpresas. Alguns filmes são feitos especificamente para ganharem o Oscar, bem convencionais e com uma história de superação. A tendência que esse velho formato seja mantido por um bom tempo a não ser que haja uma ruptura radical na Academia. Muito pouco provável.
O CINEBULIÇÃO ESTÁ COM DUAS LISTAS ESSE MÊS, “INGMAR BERGMAN” E “WESTERN”. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE O DIRETOR SUECO E SOBRE ESSE CLÁSSICO GÊNERO ESTADUNIDENSE?
Ingmar Bergman dispensa comentários. Poucos diretores representaram tanto a arte cinematográfica como este sueco. Os filmes de Bergman tem uma profundidade sem igual e não é uma produção que se encerra nos créditos finais. Os questionamentos e reflexões suscitados durante o filme permanecem em nossas mentes por um bom tempo. Já o Western é o gênero que mais representa o cinema norte-americano. Já foi subestimados por muito tempo, mas é inegável a relevância do gênero para a história do cinema. Destaque para os filmes de John Ford e Sergio Leone como os dois principais diretores do gênero.
VOCÊ ACREDITA AS NOVAS TELAS E TECNOLOGIAS ATINGIRÃO MORTALMENTE O CINEMA, COMO QUASE FEZ A TELEVISÃO NOS ANOS 1950?
A sensação de assistir a projeção em uma sala de escura com desconhecidos é única. Não vai morrer nunca. Quem ama o cinema não vai abrir mão desta sensação por assistir um filme em casa, acredito eu.
É POSSÍVEL CITAR TRÊS “OBRAS PRIMAS ABSOLUTAS” NESSE INÍCIO DE SÉCULO?
A Rede Social, Bastardos Inglórios e Dogville.
E QUANTO AOS DIRETORES, HÁ ALGUM QUE TENHA SE TORNADO “OBRIGATÓRIO”?
Embora os primeiros filmes de David Fincher datem da década de 90, seus trabalhos mais importantes e essenciais aconteceram no início deste século. Clube da Luta é a exceção, já que é do ano de 1999. Outro diretor que se tornou obrigatório durante este século foi o dinamarquês Lars Von Trier, sobretudo após Dogville, com uma filmografia bem particular e instigante, embora seu primeiro filme (Epidemic) seja de 87.
* Caique Gonçalves também é membro do Júri de Cinéfilos do Cinebulição.