22 de abr. de 2011

O Caso dos Dez Negrinhos



por Luiz Santiago


     O Caso dos Dez Negrinhos, um dos romances mais famosos da escritora britânica Agatha Christie, foi escrito em 1939, e já recebeu mais de uma dezena de adaptações para o cinema. A primeira delas foi realizada em 1945 por René Clair, diretor francês exilado nos Estados Unidos após a ocupação nazista em seu país de origem. Na última obra que dirigiria em território americano, Clair realizou um filme de alto suspense e bem fiel à obra original, exceto pelo desfecho, que seguiu as imposições comerciais do mercado distribuidor. Apesar de ser um filme acima da média, está longe de ser uma obra-prima desse diretor, um dos pioneiros realizadores do cinema.

     O impasse com a palavra “negrinhos” já tinha causado polêmica à época da publicação do livro nos Estados Unidos, o que fez com que a sentença fosse mudada para “indiozinhos”. Particularmente nunca vou entender a justificativa de segregação, uma vez que a solução cai no mesmo abismo do qual tenta sair: se a nomenclatura “negrinhos” é preconceituosa, “indiozinhos” não é? Mais um dos muitos protestos niilistas e pseudo libertários que vez ou outra aparecem por aí. Por essa questão, o filme de René Clair traz os “indiozinhos” como personagens da música tema e das estatuas que vão sendo destruídas conforme cada personagem é morta.


     A história se passa em uma ilha em Devon, onde oito convidados de um tal U. N. Owen juntam-se aos dois criados da casa e passam a ser julgados por crimes que cometeram anteriormente. A paranoia se cria aos poucos, especialmente quando chegam à conclusão de que o Sr. Owen está entre eles. A cada novo assassinato, novas suspeitas e novas pistas aparecem. Mesmo para quem leu o romance, a espera e o modo como a linha de acontecimentos é traçada impressiona bastante.

     Deixando de lado a fina ironia e o humor meio cáustico e terno de seus filmes franceses, Clair faria um filme que estivesse dentro da cartilha do Estúdio. Mesmo assim, o ótimo uso do espaço da casa e a sequência de assassinatos são tão bem orquestradas pelo diretor, que há momentos que o filme chega a um patamar de admirável notabilidade plástica. A relação entre as personagens e o detalhismo típicos do cineasta recebem a devida atenção, o que não permite que o filme se torna opaco e sem emoção. Em comparação à filmografia de Clair é sim um filme aquém do normal, mas mesmo assim ultrapassa muitas outras obras de suspense da época.

     Particularmente não sou simpático ao elenco do filme, mas devo admitir que depois dos momentos iniciais após se estabelecerem na propriedade e depois das primeiras mortes, as personagens parecem ganhar uma força extra e as interpretações ficam mais críveis e elegantes, dignas de um filme desse porte.


     A adaptação de René Clair para o livro da Dama do Suspense é cinematograficamente razoável, e certamente não é um de seus melhores filmes. Mesmo assim, consiste em um válido divertimento, um bom suspense para quem leu ou não o livro que lhe serviu de base. Vale pelo grande apelo dado à psicologia dos moradores da casa e pelo suspense criado em torno da identidade do misterioso assassino, colocando uns contra os outros dentro casa. Só isso garante a sessão, mas estejam certo que podem encontrar nesse filme um pouco mais que uma simples suspeita, afinal de contas, trata-se de um filme de René Clair.


O VINGADOR INVISÍVEL (And Then There Were None, EUA, 1945)
Direção: René Clair
Elenco: Walter Huston, Roland Young, Louis Hayward, June Duprez, C. Aubrey Smith, Barry Fitzgerald, Mischa Auer, Judith Anderson, Richard Haydn, Queenie Leonard.


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.

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