11 de out. de 2010

A Mitologia Simbólica de Shyamalan




por Nelson Lopes Rodrigues



     Manoj Nelliattu Shyamalan, conhecido profissionalmente como M. Night Shyamalan (Mahé, 6 de agosto de 1970) é um cineasta indiano. O cineasta é conhecido pela forma quase independente de produzir seus filmes. Geralmente ele escreve o roteiro, dirige, e às vezes, também produz. Há uma série de pequenos detalhes que se sucedem por suas obras fílmicas. Pensei em uma linguagem própria do diretor, como um código.

     Para começar, Shyamalan geralmente dirige seus filmes na mesma cidade onde ele cresceu (apesar de ter nascido na Índia, cresceu num subúrbio da Filadélfia, onde rodou todos seus filmes – menos Praying with Anger, 1992). Lembremos também de sua mania de participar dos filmes, como Hitchcock [...]. Tentei na medida do possível identificar alguns dos códigos do cineasta.



     A primeira coisa que achei curioso é o aspecto religioso-filosófico de seus filmes. Seguindo esta perspectiva percebi que há alguns elementos que aparecem em seus trabalhos, dentre eles, a água. A água seria uma forma de representar a purificação. A personagem de Paul Giamatti faz essa menção no filme 
A Dama da Água (2006). Podem perceber que no filme há várias cenas em que a câmera destaca a piscina, os regadores e as máquinas de lavar roupas, tudo o que possui uma ligação com a água tem sua importância no filme.

     A água está presente no filme Corpo Fechado (2000), onde há o personagem de David Dunne (Bruce Willis). O filme tem como tema principal um dos aspectos da chamada “mitologia dos super-heróis dos quadrinhos”, ou seja, é a jornada do herói que está em discussão, a saber, que todo herói deve possuir um arqui-inimigo, que geralmente se torna um super-vilão em função das ações de seu futuro antagonista. Mas há uma fraqueza na personagem de Willis: a água!



     Juntamente com A Dama da Água e o filme Corpo Fechado, temos o filme Sinais, onde este elemento também tem grande representação. A água que a menina Bo (Abigail Breslin) que estranhamente não bebe e tem grande importância na trama, como na morte do alien, quando Merrill (Joaquin Phoenix) bate com o taco de beisebol, e também quando a personagem de Shyamalan fala ao pastor (Mel Gibson). A obra do professor de filosofia Lourenço Leite (UFBA) Do simbolismo ao racional – ensaio sobre a gênese da mitologia Grega como introdução à filosofia possui um glossário etimológico onde fala sobre a simbologia da água. Para o pesquisador a água

Representa a memória da criação e ajuda ao iniciado em mistérios a lembrar de suas origens e de seus ancestrais. A água também é o elemento da natureza que purifica o corpo. Ajuda no reequilíbrio das funções orgânicas. Além disso, ela simboliza no batismo a presença do absoluto como união indestrutível e proteção contra o desligamento de qualquer homem com o todo. Ou seja, mesmo em meio a qualquer tipo de tentação ou transgressão, a partir do batismo com a água, o homem não se perderia totalmente. Portanto, a água é a melhor representação da memória do que se é. (LEITE, 2001, p.163).


     Também há a simbologia das cores, principalmente o vermelho, na obra de Shyamanlan. As cores tomam uma importância em duas obras do diretor. No filme O Sexto Sentido (1999 ), um psicólogo infantil, Malcolm Crowe (Bruce Willis), trata de um garoto de nove anos que tem dificuldades de relacionamento no colégio e vive com medo das visões que tem. Durante o filme podemos ver objetos vermelhos durante todo o filme, se destacando do resto. Sempre que um espírito está presente, algum objeto vermelho é mostrado na cena, como a cor do balão e do suéter da Escola, na festa de aniversário; a carpa onde se encontra a Kyra, os números na gravadora de Crowe; a maçaneta da porta fechada do apartamento de Crowe e o vestido da mãe da menina. No UNBREAKABLE , Malcolm Crowe percebe as intenções das pessoas ao tocá-las, e a câmera destaca estas pessoas pelas cores, portanto as cores tem um significado importante. No filme A Vila, o diretor propunha similarmente à cor vermelha como uma cor com conotações sobrenaturais (especificamente, os monstros misteriosos que habitam os bosques ao redor da aldeia) mas há a capa amarela da personagem cega (seria uma contraposição simbólica ao vermelho?).





     Vermelho é a cor do fogo, da paixão, do entusiasmo, dos impulsos. Estimula reações diretas e até mesmo agressivas: força, valentia, tenacidade (persistência), vigor. Simboliza também a aproximação e o encontro entre as pessoas.

     O diretor aproxima temas fantásticos ao mundo real, numa tentativa de re-contar o mundo e suas interpretações possíveis (mundo sensível e mundo fantástico). São filmes que valorizam mais a história e a interpretação dos atores do que a pirotecnia. No filme O Sexto Sentido e A Dama na Água, é a sua maneira de ver o sobrenatural. Fim dos Tempos é a sua maneira de ver o final, mas também sua concepção ecológica. Sinais é a sua interpretação dos fenômenos ufológicos. E Corpo Fechado é a sua interpretação da jornada do Herói. Os filmes de Shyamalan são muito ricos em simbologia, acho que tem mais coisas para explorar, mas no momento é tudo que posso expor.


Artigo originalmente publicado no Filocinética.

Referências:
LEITE, Lourenço. Do simbólico ao racional. 1. ed. salvador: fundação cultural do estado da bahia, 2001.


O Sexto Sentido (The Sixth Sense). M. Night Shyamalan. EUA. 1999. 108 minutos
Corpo Fechado (Unbreakable). M. Night Shyamalan. EUA. 2000. 106 minutos
Sinais (Signs). M. Night Shyamalan. EUA. 2002. 74 minutos
A Vila (The Village). M. Night Shyamalan. EUA. 2004. 108 minutos
A Dama na Água(Lady in the Water). M. Night Shyamalan. EUA. 2006. 109 minutos
Fim dos Tempos (The Happening). M. Night Shyamalan. EUA. 2008. 90 minutos

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