9 de nov. de 2011

Porto (Hamnstad), 1948


por Luiz Santiago


          Em seu quinto longa-metragem, Ingmar Bergman aproveitou-se de um bom roteiro, entregue a ele no final das filmagens de Música na Noite, e realizou um filme bem diferente dos que havia feito até então. Essa quebra formal se dá principalmente na predominância das filmagens fora do estúdio – embora não fosse novidade para o diretor, que já em Um Barco para a Índia tinha experimentado um bom número de tomadas externas – e na aproximação declarada com o neorrealismo italiano, especialmente na inspiração psicológico-social de Roberto Rossellini, se bem que, em termos de referências cinematográficas, Porto está mais para os filmes de Vittorio De Sica do que para Rossellini. Bergman mostrava que não tinha medo de experimentar ou testar novas formas de expor a sua arte.

          A história de Porto, apesar de o roteiro de ser assinado por Olle Länsberg, é muito parecida com as histórias familiares que Bergman escreveria e dirigiria alguns anos mais tarde. Aqui, bem diferente do romance social explorado em Chove Sobre Nosso Amor, temos uma realidade menos apaixonada e mais impessoal no que se refere ao caráter e relação entre as personagens. O amor depende de alguns fatores sociais, e só é concretizado quando o casal Gösta e Berit resolve enfrentar os obstáculos impostos pelo sistema.

          A trama de desenvolve de forma limpa e bem dirigida, mas Porto não é um grande filme. Não por ser o “elefante branco” na filmografia de Bergman, ou por ter alguns momentos de atuações canastronas e música exageradamente dramática (uma composição quase wagneriana de Erland Von Koch, em sua quinta – e penúltima – parceria com Bergman), mas porque em sua fase final a película perde força e dá lugar a uma finalização muito rápida dos acontecimentos. Além disso, não há um trabalho satisfatório sobre questões sociais. Bergman opta por focar o indivíduo em detrimento do grupo de atores sociais da fábrica ou do cais – uma opção existencial que seria perfeita se a obra não evocasse a escola que pregava um “cinema social”.


          A fotografia de Gunnar Fischer é de tendência expressionista, priorizando o contraste dos ambientes, e por vezes naturalista, seguindo a cartilha do neorrealismo. Interessante é a montagem de Oscar Rosander, que nos apresenta de maneira muito dinâmica a ligação entre os planos e dá um bom ritmo à história.

         Porto não é uma obra prima do cinema de Ingmar Bergman, mas é uma interessante passagem do diretor pelo neorrealismo, em um tempo em que ele ainda não tinha muita certeza sobre qual o caminho mais confortável para se tornar ele mesmo.


PORTO (Hamnstad, Suécia, 1948).
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Nine-Christine Jönsson, Bengt Eklund, Mimi Nelson, Berta Hall, Birgitta Valberg, Sif Ruud, Britta Billsten, Harry Ahlin, Nils Hallberg, Sven-Eric Gamble.


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.



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