24 de out. de 2011

Os Gigantes (Les Géants)


por Luiz Santiago


     Por mais que um filme seja belo, bem dirigido e atuado, quando não há verossimilhança no roteiro, a percepção do espectador é agredida, e muito raramente a película será bem aceita. Nesse ponto, é necessário dizermos que a verossimilhança é um ingrediente essencial para qualquer enredo ou roteiro, excetuando-se os filmes surreais, fantásticos, sci-fi e experimentais, que já trazem, em sua categoria, a característica do inusitado, do não-real, do impossível.

     O que acontece em Os Gigantes (2011), é um bom exemplo de um filme que tinha tudo para dar certo, mas que se perde em meio à anárquica formação da história. O filme narra as aventuras de três adolescentes que se encontram nas férias de verão, e dividem muitas experiências juntos. Podemos dizer que é um “filmes de ação europeu para adolescentes”. Mas essa classificação seria reducionista e incompleta, porque Os Gigantes, apesar de sua fraca organização dramática, é um filme instigante e que contém vários níveis de interpretação.  

     Dentre os elementos técnicos, destacaremos em primeiro lugar a fotografia de Jean-Paul de Zaetijd, fotógrafo que já havia trabalhado com o diretor Bouli Lanners anteriormente, e que volta, agora, imergindo os planos de Os Gigantes em um “mar verde”. O tempo inteiro, podemos ver a ligação da natureza com os três garotos protagonistas. A abertura do filme já nos apresenta planos sobre um campo ao vento, e no decorrer da película, a natureza se apresenta quase como um habitat para esses meninos. É como se eles, na categoria metafórica (talvez irônica) de “gigantes”, fossem seres das florestas, do meio selvagem. Com o tempo, percebemos que o comportamento quase animal dos meninos nos permite afirmar isso: sujam-se o tempo inteiro, estão sempre em trânsito pela mata, pelo rio, etc. O final do filme é a coroação exata dessa colocação simbólica: os animais migram, mas não sabem, exatamente, para onde.


     Se o roteiro a três mãos não é bom, e nem dá o destino e as explicações necessárias para o filme, a direção, as atuações, a música e a fotografia superam muito essa deficiência. Os Gigantes é um filme incrível de se ver. A descoberta (ou indicações sutis) da sexualidade, do vício, do abandono familiar e da amizade são marcas deixadas pelos garotos que nos emocionam plenamente. Lamenta-se ver tudo isso jogado em uma enxurrada de impossibilidades que é o roteiro desta obra.


* Filme visto na 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo


OS GIGANTES (Les Géants, Bélgica, França, Luxemburgo, 2011).
Direção: Bouli Lanners
Elenco: Zacharie Chasseriaud, Martin Nissen, Paul Bartel, Karim Leklou, Didier Toupy, Marthe Keller


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.


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