11 de ago. de 2010

O Retorno à Razão



por Luiz Santiago


   Man Ray foi um artista plural, e o principal artista americano do surrealismo. Além de dirigir filmes, também pintava e fotografava. Em 1924, atuou para René Clair em Entreatos. Também foi assistente de Marcel Duchamp durante o período em que passou na França – no qual também integrou a chamada “Geração Perdida”.

   Sua obra O retorno à razão (1923), é um curta-metragem enigma, assim como todo o trabalho surrealista. Os significados e as conclusões para o que nos é apresentado pela câmera podem ser diversos, mesmo para um único indivíduo.

   Não há créditos de abertura, no filme. A cena inicial é uma sequência de imagens granuladas, multi-caleidoscópios em preto e branco. Pregos soltos na tela e algumas imagens surrealistas se seguem. A primeira quebra narrativa (talvez uma tentativa de alusão muda ao título) é a imagem de um carrossel funcionando em um parque de diversões, à noite. Vários ângulos são mostrados. A câmera nunca está parada, e se torna subjetiva às vezes. É o primeiro momento em que vemos algo que faça sentido real: closes de um carrossel. Na sequência seguinte, uma outra mudança estrutural-narrativa: uma engrenagem de uma máquina em tamanho gigante (como as de Tempos Modernos, 1936, de Chaplin) é mostrada. No fundo da imagem das máquinas parece haver um palco. Uma luz diagonal reflete o que parece ser a roupa de uma pessoa. No canto superior esquerdo podemos ler a palavra DANCER. Seria o trabalhador que usa essas máquinas, apontado aqui como “dançarino”?


   Outras imagens surrealistas se seguem, em alta velocidade. Um “cone” de papel desce em frente à câmera. Uma pequena armação de madeira roda, presa a um barbante, em frente a uma janela iluminada pela luz do sol. 


   O fechamento do curta, é, novamente, uma “volta à razão”: uma mulher, com os seios à mostra, está em frente à uma janela. O reflexo da cortina sobre seus seios e sua barriga fazem-na parecer um jarro desenhado e alto-relevo. A mesma imagem é mostrada em negativo. E o curta termina com a mulher tomada em um ângulo diagonal.

   O que poderia ser o “retorno à razão”, proposto por Man Ray? A tirar pelo término do curta, esse “retorno” a tal razão é falso, porque a razão não existe, segundo as suas experiências fotográficas que alteram a imagem-realidade: ou, o que seriam aquelas imagens reproduzidas pela câmera? Que efeito de “real” produziram no espectador? Seria o ininteligível a “verdadeira razão” do homem, e a sua convencional realidade uma falsidade produzida por ele? Um retorno a qual razão, o cineasta propõe?

Questões filosóficas e surrealistas...


O RETORNO À RAZÃO (Le Retour à la Raison, França, 1923).
Direção: Man Ray
Elenco: Kiki de Montparnasse


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.

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