Cena de "Vá e Veja" - Elem Klimov, 1985 |
por Luiz Santiago
De todas as artes, o cinema é para nós a mais importante.
Lênin
Os acontecimentos que nos anos 80 conduziram a URSS a uma queda do comunismo e à desagregação do país deram lugar a numerosos reexames de sua história. Dessa forma, o cinema russo e soviético foi objeto de um processo de reavaliação.
Reflexo da ideologia burguesa, o cinema pré-revolucionário havia sido ocultado pelo governo comunista, que também silenciou seus próprios cineastas. Apenas com a glasnost e a perestroika, uma revelação quase total se deu para o Ocidente do cinema, práticas e influências do cinema daquele país, até então conhecido apenas pelos filmes de grandes mestres e por momentos ímpares da história da nação soviética.
Hoje, o panorama do cinema russo difere da imagem ilhada que há três décadas sustentava. Os “últimos perseguidos” (Tarkóvski e Paradjanov) são ícones e bons exemplos de uma fase dura do cinema gerido pelo realismo soviético e pelo forte controle dos estúdios. Da fase da repressão, ainda temos vivos e ainda dirigindo filmes, os diretores AleksandrSokúrov e Kira Murátova. Da herança do passado russo, Andrei Zvyagintsev é um bom exemplo, trazendo para os seus filmes o ambiente natural típico de Tarkóvski.
Mesmo tendo se subordinada durante 70 anos ao poder político (com poucas exceções e “burlas” ao sistema), o cinema soviético teve grande influência sobre sua população. Foi o primeiro país do mundo a abrir uma escola de cinema e carregar na pele de alguns realizadores a marca autoral ou original de fazer cinema – uma quebra total com os sistemas vigentes, embora tenha adaptado parte de suas criações a a partir desses sistemas.
OS GRANDES ESTÚDIOS
Roskino, Ermoliev e Goskino (que no período de 1926-1930 foi chamado de Lenfilm) são Estúdios da "Era Clássica" ou inicial do cinema soviético. Uma dessas companhias, fundada em 1920, é hoje um dos grandes estúdios da Rússia, com produções de filmes e animações. Neste ano de 2011, a Companhia disponibilizou em uma página oficial um precioso catálogo de suas produções clássicas, para serem vistas online. A Goskino ainda funciona como Estúdio / Produtora, sendo uma grande especialista em séries de TV, como por exemplo a elogiada O Mestre e a Margarida.
PERIODIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
Era Czarista ou período pré-revolucionário (1908 - 1917)
Diretores importantes: Goncharov, Bauer e Protazanov;
Obras em destaque: A Defesa de Sebastopol (1911) e Canto do Amor Triunfante (1915).
Principal divisão: Idade do Ouro / Vanguardas (1919 - 1930)
Divisão II: Revolução e guerra civil (1917 - 1922)
Divisão III: Efervescência da NEP (1922 - 1932)
Diretores importantes: Vertov, Eisenstein, Pudovkin e Dovzhenko
Obras em destaque: O Encouraçado Potemkin (1925), Tempestade Sobre a Ásia (1928), O Homem com Uma Câmera (1930).
Principal divisão: Era do Realismo Socialista (1932 - 1989)
Divisão II: Anos de chumbo (1932 - 1941)
Divisão III: Recrudescimento e início do degelo (1941 - 1955)
Divisão IV: Degelo (1955 - 1968)
Divisão V: Estagnação (1968 - 1986)
Divisão VI: Reestruturação (1986 - 1991)
Diretores importantes: Donskoi, Chiaureli, Kalatozov, Guerasimov, Romm, Savchenko, Chukrai, Bondarchuk, Tarkóvski, Konchalovski, Panfilov, Mikhailkov, Guerman, Sokúrov, Soloviev, Lopushanski e Pichul.
Obras em destaque: Alexander Nevski (1938), Ivan, O Terrível (1944 - 1948), Quando Voam as Cegonhas (1957), A Infância de Ivan (1962), Cavalos de Fogo (1965), Rei Lear (1971), Peça Inacabada Para Piano Mecânico (1976), A Pequena Vera (1989).
O pós-comunismo (1991 - )
Diretores importantes: Omirbayev, Amirkulov, Zvyagintsev, Bekmanbetov e Lugin.
Obras em destaque: Páginas Ocultas (1993), Mãe e Filho (1998), O Retorno (2003), Guardiões da Noite (2004), A Fronteira (2010), Fausto (2011).
Cena de O Encouraçado Potemkin - Sergei Eisenstein, 1925 |
GRANDES PARCERIAS
Diretor: Sergei Eisenstein
Roteirista: Grigori Alexandrov
Diretor de fotografia: Eduard Tisse
Compositor: Sergei Prokofiev
Diretor: Vsevolod Pudovkin
Roteiristas: Nathan Zarkhi e Osip Brik
Diretor de fotografia: Anatoli Golovnya
Diretor: Dziga Vertov
Diretor de fotografia: Mikhail Kaufman
Diretor: Lev Kuleshov
Roteiristas: Vsevolod Pudovkin e Victor Shklovsky
Diretor: Grigori Kozintsev
Roteirista: Leonid Trauberg
Diretor de fotografia: Andrei Moskvin
Compositor: Dmitri Shostakovich
INFLUÊNCIAS ARTÍSTICAS DAS VANGUARDAS
Artes plásticas: Futurismo, construtivismo, suprematismo, Malevich, Rodchenko;
Teatro: Stanislavski, producionismo, Meyerhold, Arvatov, Prolecult;
Literatura: Brik, Shklovski, Tynianov, Maiakovsky, Eikhenbaum, formalismo.
TEORIAS DA MONTAGEM
Lev Kuleshov: movimento, velocidade, importância da plasticidade da imagem.
Dziga Vertov: montagem durante o filme, câmera rápida, desenquadro, contra o "cinema drama"; a favor do "cinema-crônica", investigação do mundo pelo "cine olho".
Vsevolod Pudovkin: montagem como o "fundamento estético do filme", a favor do roteiro e da dramaturgia.
Sergei Eisenstein: montagem como produtora de sentido - "todo o filme é uma ideia"; apenas a montagem dá sentido aos "fragmentos", arrancar estímulos através da realidade, acionar o espectador.