por Luiz Santiago
É redundante falarmos de um supremo uso da montagem e do som, quando se trata de um filme dirigido pela pessoa que teorizou a carreira inteira sobre esses elementos do cinema.
Todavia, reservo-me o direito de tecer algumas observações sobre esse filme, retomando as teorias já citadas. Tempestade Sobre a Ásia é um dos mais belos, bem musicados e editados filmes do Pudovkin (na minha opinião, "O Desertor" é o clímax no tocante à música, e "A Mãe" no tocante à montagem e enredo).
Aqui, a construção do herói revolucionário é vista como parte de um processo de educação ideológica e cultural. As sequências dos rituais são de uma beleza imagética e de uma precisão antropológica que dão inveja a qualquer documentarista contemporâneo, seja pela fidelidade e poesia com que são retratadas, seja pela sua colocação no enredo fílmico. Além disso, o enredo é potente em sua construção do herói, e mostra não só os louros da vitória, mas a saída da vida humilde e pastoril, a revolta contra um opressor, a reificação da cultura pelos europeus, e a atitude revolucionária do governante fantoche.
Pudovkin consegue juntar lirismo e cinema de propaganda, tendências documentais e ficção. Uma obra de poder único. Um filme poderoso.
TEMPESTADE SOBRE A ÁSIA (Potomok Chingis-Khana, URSS, 1928)
Direção: Vsevolod Pudovkin
Elenco: Valéry Inkijinoff, I. Dedintsev, Aleksandr Chistyakov, Victor Tsopi, F. Ivanov, Boris Barnet, Karl Gurniak, I. Inkhizinov, Anel Sudaevich
FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.