2 de ago. de 2011

Editorial Veredicto Nº6: Orson Welles



APRESENTAÇÃO


por Dilberto L. Rosa


     "49 acres de cenários, espelho e estátuas"... Assim era Xanadu -- a gigantesca e cinematográfica propriedade do magnata das comunicações e da Política, Charles Foster Kane, onde este, pouco antes de seu falecimento (e de retornar para um momento particular de sua infância), balbucia o enigmático "Rosebud", dando início a um intrincado jogo de descobertas do homem por trás da lenda -- descrito por um de seus falsos amores... Com esta premissa genial, quase um docudrama (subgênero que se afirma já no início do filme, com um pequeno "documentário" sobre o protagonista e anti-herói), o magistral Orson Welles levou às telas um dos melhores filmes de todos os tempos (por muitas vezes encabeçando mesmo qualquer lista), Cidadão Kane, e acabou por tornar-se, ele mesmo, uma própria lenda.

     Mas, acima da sua obra-prima maior (revolucionária em inúmeros aspectos, como a narrativa não-linear; seus ângulos de câmera inusitados; fotografia com profundidade de campo; longos 'travellings', cenografia com o então inovador uso de teto etc. e etc. -- verdadeira aula de Cinema do início ao fim), Welles foi um homem à frente do seu tempo, que soube como poucos aproveitar suas experiências anteriores ao Cinema (ator, radialista e produtor teatral/radiofônico) e se tornou um dos primeiros cineastas independentes da História, para o bem e para o mal: depois de sérias complicações processuais e financeiras com o magnata Hearst (que o acusava de usar indevidamente sua imagem em "Cidadão Kane") e de ter várias de suas obras remontadas sem seu consentimento, Orson Welles praticamente se desvencilhou de Hollywood, adotando orçamentos infinitamente mais modestos e, ainda assim, criando uma obra memorável...

     Mesmo com sérios (e visíveis) problemas orçamentários, muitos dos seus filmes marcaram a cinematografia mundial: Macbeth - Reinado de sangue (onde mostra sua adoração shakesperiana, com os atores falando em impecável sotaque escocês arcaico), A Marca da Maldade (num atípico Policial cheio de ricos subtemas e com sua memorável e quase monstruosa aparição obesa, que acabou se tornando 'cult') e O Processo (que, apesar de todos os pesares, ainda é a minha adaptação favorita da obra de Kafka) são exemplos inesquecíveis do que um gênio pode realizar mesmo segregado ou sob o fogo cruzado dos estúdios e com baixos orçamentos.

     Mas, sem dúvida, logo abaixo de Cidadão Kane, seu filme mais marcante é Soberba, verdadeiro divisor de águas na vida do cineasta -- infelizmente, mais pelo que significou em termos de ruína para sua carreira (foi finalizado à revelia do diretor, que viajara para o Brasil a mando dos grandes estúdios e sob a Política da Boa Vizinhança da 2ª Guerra para filmar o também incompleto It's all true!) do que pela qualidade (em muitos pontos duvidosa, especialmente pela perda de mais de 40 minutos de filmagem na finalização 'off-Welles'), Soberba, ainda assim, foi indicado ao Oscar em várias categorias (incluindo melhor filme) e agradou pela forte presença de Welles nos temas que o tornaram célebre com seu antecessor Cidadão Kane: a ascensão social e política (desta vez de uma família, os Ambersons do título original) em meio às hipocrisias e faltas de ética do ser humano diante de seus objetivos.

     E é tudo verdade: viva a independência e a coragem criativa de um homem genial e maior do que seus personagens grandiosos! Viva Orson Welles!



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UMA REALIZAÇÃO




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