18 de jul. de 2011

Cinema e Literatura: O "cristianismo patético"


por Luiz Santiago

O LIVRO

     Escrito em 1898, Padre Sérgio é um prato cheio para os versados em psicanálise e críticos do cristianismo – essa última característica, sendo própria de Tolstói, que, por sua versão pessoal e ácida do cristianismo, acabou sendo excomungado da Igreja Ortodoxa em 1901.

     Em pouco mais de 100 páginas, o autor nos conta a vida do príncipe Stiepán Kassátski, que acaba virando o Padre Sérgio em dado momento de sua vida. Com uma narração fria e indiferente, os acontecimentos da vida do Padre Sérgio são sempre ligados à sua busca por algo novo, por querer fazer diferente, por nunca estar contente com o patamar (qualquer que fosse) em que se encontrava. Daí a passagem para o mosteiro e sua renúncia do desejo, tanto carnal, quanto o de ser o primeiro em tudo. É interessante como o autor nos apresenta aos poucos essa mudança. Já ao fim do livro, a carga patética que envolve a existência do Padre Sérgio chega a incomodar o leitor, especialmente nos parágrafos finais, quando essa característica insossa chega ao seu ápice.

     O livro nos mostra a sociedade da Rússia czarista, suas festas e hierarquias, sua corte e boatos. Por outro lado, nos mostra a Rússia da periferia, a Rússia dos peregrinos, vagabundos, as deportações para a Sibéria, os vícios e crimes. Embora seja um livro cujo foco é único – o personagem que dá título à obra –, vemos tratados com grande importância esses “temas paralelos”.

     A crítica ao cristianismo aparece desde o momento em que Kassátski entra para o monastério. A burocracia e hierarquia da igreja bem como o questionamento da fé e do próprio Deus são abordados no livro. A mulher, como tentadora, é também uma das colunas paralela à narrativa.

     Não se trata de uma das melhores criações de Tolstói mas é um enorme prazer de leitura. Certamente a polêmica que aborda pode incomodar aos leitores cristãos mais fervorosos, que geralmente tendem a antipatizar com esse tipo de colocação. Mas garanto que ao fim de tudo, a análise feita do mundo laico X mundo religioso é digna de nota. O livro é patético por constituição, e nos faz lembrar a existência de muitos, ao nosso redor. Leitura recomendadíssima!




OS FILMES

     Tolstói é um dos escritores que mais possuem obras adaptadas para o cinema, em diversos momentos da história (Guerra e Paz e Ana Karenina estão entre as principais). Segundo o IMDB, são 159 filmes baseados em seus livros, um número bem significativo. Para a novela Padre Sérgio encontramos as três adaptações cinematográficas que se seguem.


Título original: Otiéts Siergui 
Direção: Yakov Protazanov e Alexandre Volkoff
País / Ano: Rússia, 1919
Duração: 112min.
CONFIRA UMA CENA DESSE FILME ABAIXO.





Título original: Le Père Serge

Direção: Lucien Ganier-Raymond

País / Ano: França, 1945

Duração: 105min.



Título original: Otiéts Siergui

Direção: Igor Talankin

País / Ano: URSS, 1979

Duração: 99min.



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