17 de nov. de 2011

Vozes Espirituais – Parte IV (1995)




por Luiz Santiago

          A premissa dessa penúltima parte de Vozes Espirituais engana o espectador. O silêncio das armas, o som de pássaros em uma manhã nublada e um soldado tomado em plano geral, tocando todos os insetos que vê, são apenas a apresentação de um clima que não durará por muito tempo. Na verdade, é nesse episódio que a “guerra física” chega de fato ao acampamento filmado por Sokúrov, até então ameaçado à distância.

          A narração adotada nessa quarta parte é mínima em palavras, quase resignada com a situação imutável que é a guerra. Inicialmente festeja-se a volta para casa dos poucos jovens dispensados do serviço militar. Após os abraços amigáveis entre os companheiros, os jovens partem no caminhão do Exército, e a vida de guerra continua para os que ficam. O modelo de apresentação das imagens aqui é quase igual ao do episódio anterior, com a diferença de que este é um bloco onde existe a guerra, a instalação de minas, soldados russos feridos, acenos de bandeira branca do outro lado do rio, horas depois do primeiro morteiro atirado; portanto, há mais movimento físico e prático do que em qualquer um dos outros três.

         Mesmo com os tiros e explosões, percebemos que todo o acampamento militar possui uma regra de sobrevivência inabalável. Em um dado momento, em meio aos avisos para a base sobre a situação no local, um soldado chega dizendo para o comandante que o cozinheiro acabou de fazer massa de pão. E ele diz que é melhor que ele asse a massa. Não é a primeira vez que me deparei com essa cena no cinema, quando se trata de um acampamento militar fixado em um território, mas é igualmente impactante ver que o perigo da morte, o medo, o horror da guerra fazem parte da vida desses homens assim como o fato de haver massa de pão para ir ao forno.


          Mesmo com uma boa qualidade de imagem e foco narrativo, esse é o episódio mais fraco do documentário, e o último que tem um caráter principal de filmagem em externas. Talvez a grande extensão de emoções e acontecimentos desse episódio façam com que ele pareça mais disperso do que pretende, e por isso mesmo, se afaste um pouco da simpatia do espectador. Mesmo assim, a dor da guerra em meio a amizade e a humanidade fixa-se como mensagem principal, e não podemos nos deixar de lamentar, após a última tomada com o soldado ferido deitado em uma esteira no chão, o quão desprezível é a guerra.


VOZES ESPIRITUAIS – 4ª Parte (Dukhovnye Golosa, Rússia, 1995).
Direção: Aleksandr Sokúrov
Câmera: Aleksandr Burov
Música: Toru Takemitsu
Som: Sergei Moshkov
Elenco: Soldados russos, Aleksandr Sokúrov (narrador).


AVALIAÇÃO DESSA PARTE DO FILME: BOM.

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