26 de out. de 2011

Inocência (Nevinnost)



por Luiz Santiago

     Um drama que herda do melhor cinema a sua base estrutural, Inocência garante uma sessão cheia de surpresas e muitas suspeitas. A história de um médico respeitado, que da noite para o dia, se vê acusado de um crime, é a coluna na qual se estrutura a afirmação subliminar: ninguém é inocente.

     A construção do suspense e a delicadeza do enredo dão origem a uma obra bem dirigida e muito bem fotografada, com predominância dos tons escuros, tal como a vida e os acontecimentos ligados às famílias envolvidas. A violência urbana e o abuso de menores (este último, uma das polêmicas contemporâneas) são muito bem retratados pelo diretor Jan Hrebejek. No decorrer do filme, esperamos estar diante de uma obra medíocre e sem muitos atrativos. Mas na reta final, a constante carga de revelações sutis do passado das personagens nos mostra que toda verdade tem dois lados.

     O filme pode parecer outras obras que trabalham a famosa reviravolta final, mas o trabalho aqui realizado passa longe das mudanças finais clichês ou cômodas. A partir de elementos que já estavam na história, mas que foram mantidos ocultos, os desfechos ganham novos rumos.


     As atuações, especialmente as do elenco feminino, são maravilhosas. Se juntarmos a isso a acidez dos diálogos, temos dois dos melhores atrativos que esse thriller dramático nos apresenta. Inocência é um filme do seu tempo. Se a premeditação e o julgamento são dúbios, injustos ou corretos, isso cabe a cada espectador decidir. A vida se espelha na ironia, e ser inocente ou não, não faz diferença alguma frente a dados incompletos ou vestígios julgamos passionalmente. Entre a razão e o sentimento, as mágoas do passado e a mão invisível do destino se encarregam de guiar a vida das personagens. Neste mundo, onde “ninguém é culpado de nada”, pergunta-se: o que é a inocência?


* Filme visto na 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.


INOCÊNCIA (Nevinnost, República Tcheca, 2011)
Direção: Jan Hrebejek
Narrador: Ondrej Vetchý, Anna Geislerová, Ludek Munzar.


FILME ÓTIMO. É IMPERDÍVEL ASSISTI-LO!

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