31 de mar. de 2011

Assassino a Preço Fixo


Dois preços

por Adriano de Oliveira




     Fazer remakes, principalmente na Hollywood atual, não constitui novidade alguma. Mas não é todo dia que se vê uma refilmagem de um longa de há quase quarenta anos atrás com os mesmos produtores e roteirista do original no projeto. Assassino a Preço Fixo (2011), dirigido por Simon West (do divertido Con Air - A Rota da Fuga) e protagonizado por Jason Statham - de Os Mercenários -, mantém a dupla Robert Charthoff e Irwin Winkler no time de produção e o veterano Lewis John Carlino desta vez assina o roteiro com o desconhecido Richard Wenk, este possivelmente contratado para ajudar a modernizar a história.



     Na versão de mesmo título, datada de 1972, a fita do diretor Michael Winner - cujas obras quase que invariavelmente estão ligadas à temática da violência - e estrelada por Charles Bronson abordou as missões de um matador profissional que age de modo discreto e limpo, evitando deixar pistas. Arthur (Bronson, vindo de sucessos em uma temporada como estrela de filmes guiados por diretores europeus, no que se inclui O Passageiro da Chuva de René Clément e Sol Vermelho de Terence Young) é esse assassino de elite, que não recusa tarefas. Ironicamente, ele é designado para matar um de seus empregadores, tarefa que faz sem hesitar. O filho da vítima, Steve (Jan-Michael Vincent, mais conhecido no Brasil pela série de TV Águia de Fogo), o qual não sabe que a personagem de Bronson foi o algoz de seu pai, aproxima-se do profissional do crime e mais adiante passa a aprender o ofício dele, numa relação de mútua confiança. A "adoção" de Steve por parte de Arthur tem motivos diferentes: se na realização de 1972, isso ocorre por uma sintonia entre dois sociopatas e pela necessidade de Arthur em ter um colaborador profissional, na de 2011 ela é sugerida como uma redenção moral, onde o assassino procura substituir, a seu particular modo, o pai que o filho perdeu pelas mãos dele.

     A versão atual segue um rumo bem parecido ao da primitiva até cerca de 2/3 da projeção, onde elas passam a divergir. Como na maioria das vezes, o primeiro filme se sai melhor quando feita uma comparação entre ambos, e um dos pontos que lhe assegura uma maior qualidade está justamente no seu epílogo mais coerente - basta dizer que o segundo peca por inserir um turning point forçado, numa trama de vingança presumivelmente desnecessária ao andamento das ações.



     Os dois exemplares não se livram de tropeços de seus roteiros (embora o contemporâneo tenha mais deslizes), algo que procuram compensar impelindo boa quantia de ação, cada qual à sua escola e à sua época. O novo quer mimetizar o original quanto a uma de suas características, a tensão constante - um dos princípios da cartilha de ação setentista -, ainda que isso fique na intenção, pois o resultado figura outro: a constante ficou para o sentido acional, colando-se o mais depressa possível uma cena de pancadaria (geralmente na linha "Bourne" de se mostrar tão ágil quanto pouco nítida a luta, devido à rapidez com que esta ocorre aos olhos do espectador) e/ou de tiros na outra. Como a body count do filme de 1972 não é baixa e Winner o dota com uma cena de perseguição de motos no melhor estilo "Bullit", dá para dizer que eles se equivalem na adrenalina.



     Só que uma diferença crucial entre os longas reflete bem as distâncias temporal e estilística que os separam. Na obra da década de 70, o filme começa e então se passam cerca de quinze minutos sem haver uma linha sequer de diálogo - algo que o cinema atual praticamente baniu, ainda mais se falamos de fitas comerciais. Dois tempos, dois preços.


* Artigo originalmente publicado no Cine Revista.


ASSASSINO A PREÇO FIXO (The Mechanic, EUA, 1972)
Direção: Michael Winner
Elenco principal: Charles Bronson, Jan-Michael Vincent, Keenan Wynn.


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.


ASSASSINO A PREÇO FIXO (The Mechanic, EUA, 2011)
Direção: Simon West
Elenco principal: Jason Statham, Ben Foster, Donald Sutherland, Tony Goldwin.


FILME REGULAR. ASSISTA SE TIVER TEMPO.

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