por Luiz Santiago
Edwin S. Porter figura entre os primeiros realizadores do cinema na América. Sua engenhosidade para experimentar as possibilidades do recém-criado cinema, o colocou ao lado de Georges Méliès, que antes mesmo da explosão das vanguardas dos anos vinte, já fazia filmes vanguardistas.
Porter foi um dos primeiros cineastas a fazer uso narrativo da montagem, o que lhe permitiu dirigir o primeiro western da história do cinema: O grande roubo do trem (1903).
Em 1906, o diretor filmou um engenhoso curta-metragem, Dream of a rarebit fiend, certamente um dos melhores e mais ousados filmes de seu tempo.
A história do curta é de um homem que come e bebe muito antes de ir para casa dormir. Depois da sequência de abertura, já fora do bar, o homem vê girar o mundo à sua volta. Porter faz nessa sequência um criativo trabalho de edição, sobrepondo fotogramas da cidade, mostrada por uma câmera que gira o tempo todo, ao take do protagonista tentando se equilibrar. É engraçado vermos como o plano subjetivo funcionava no primeiro cinema.
Três sequências do curta merecem ainda ser comentadas. A primeira é quando vemos surgir, acima da cabeça da personagem principal, uma grande panela, e dela, sair três diabinhos que “batem” na cabeça da personagem, que faz caretas de dor o tempo inteiro. A segunda é quando vemos a cama girar violentamente no quarto, uma indicação das “perturbações alcoólicas e digestivas” do protagonista. A terceira é quando a própria cama “pula” pela janela e sobrevoa a cidade. Dream of a rarebit fiend é um incrível exemplar da engenhosidade técnica dos primeiros cineastas americanos, e um cômico exercício feito por quem entendia e ajudava a inventar o cinema.
DREAM OF A RAREBIT FIEND (Idem, Estados Unidos, 1906)
Direção: Edwin S. Porter.
Elenco Principal: Jack Brawn.