por Luiz Santiago
Com base no livro de memórias de Pierre Klossowski, o exilado chileno Raoul Ruiz faz a sua estreia na França com a complexa obra A Vocação Suspensa. Amigo pessoal de Klossowski, Ruiz procurou trazer com muita subjetividade a experiência que o amigo havia passado durante a ocupação nazista na França, período em que fora seminarista.
Ruiz adota pela primeira vez o tom de parábola crítica à uma instituição, utilizando-se da fantasia surrealista como identidade marcante, e também de efeitos visuais diversos para “brincar” com a percepção do espectador perante a “realidade” que se apresenta. Nesse caso, a mise en scène (não gosto muito de usar essa palavra para “cinema não-teatral”, mas no caso de A Vocação Suspensa, além da aplicação ser legítima, ela retrata com exatidão a “encenação da câmera” pelo espaço fílmico) apresenta de maneira quase onírica as duas ações da obra.
Em uma narrativa paralela e conjunta, temos uma história que mistura investigação, ícones, dogmas da igreja, conspiração religiosa e política. Talvez essa amplitude de assuntos, narrados de forma tão experimental e complexa, sejam os fatores que deixem o filme cifrado, e diminuam um pouco o acesso do espectador à sua compreensão. Contudo, A Vocação Suspensa é um exercício maravilhoso de cinema, e uma crítica aos rituais da igreja, sua secularização, humanização e exageros. Um filme santificadamente necessário.
A VOCAÇÃO SUSPENSA (La Vocation Suspendue, França, 1978).
Direção: Raoul Ruiz
Roteiro: Roul Ruiz (baseado nas memórias de Pierre Klossowski).
Elenco: Didier Flamand, Gabriel Gascon, Pascal Bonitzer, Maurice Bénichou, Pascal Kané, Alexandre Tamar, Jean Badin, Françoise Vercruyssen, Marcel Imhoff, Jean Lescot.
Duração: 1h35min.
FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.