19 de out. de 2011

Nollywood, a maior indústria de cinema



por Luiz Santiago

     A República Federal da Nigéria é um dos países da costa oeste africana, o mais populoso da África (a maior nação negra do mundo), com pouco mais de 155 milhões de habitantes, e a quase duas décadas, o pioneiro na produção de cinema em vídeo com distribuição informal, no mundo, o que lhe rendeu o posto de maior indústria de cinema que existe hoje. Nollywood é, portanto, o terceiro mega polo de cinema da história, depois de Hollywood e Bollywood, mas já ultrapassou os dois primeiros em produção de filmes. 

     As principais características das películas dessa indústria são: a corrupção, a política, a AIDS, a feitiçaria (em diversos níveis), as tradições religiosas, sociais, familiares, e a violência; cada um desses temas trabalhados em diversos gêneros, como a comédia, o drama, o terror, e o épico. Centenas desses filmes nollywoodianos estão dispostos na íntegra no Youtube.

     Há uma polêmica sobre a nomeação de "indústria" para o polo cinematográfico da Nigéria. Alguns críticos e outros profissionais acreditam que uma produção anárquica e a venda e exibição informais não são o bastante para garantir esse status a nenhum centro de produção de cinema. É necessário que haja preocupações estéticas e formais, e alguma normatização da equipe técnica, para que a qualidade dos filmes seja minimamente aceitável. É fato que boa parte dos filmes nollywoodianos mais parecem produções amadoras de qualidade contestável, todavia, dos anos 2000 para cá, alguns diretores apresentaram em suas películas uma outra preocupação além daquela de produzir rapidamente. Aos poucos, Nollywood rompe com o amadorismo.

     O surgimento de Nollywood data de 1992, com o filme Living in Bondage. A indústria, a partir de então, teve como primeiro impulso o mercado VHS. Com o surgimento da tecnologia digital, os nigerianos souberam fazer uso comercial do novo formato, o que foi um fator predominante para a existência de Nollywood. Hoje, essa indústria cinematográfica gera quase 1 milhão de empregos e movimenta a economia do país, perdendo, em receita, apenas para a exploração de petróleo. O nos que chama atenção sobre esse mega mercado cinematográfico é que ele se estrutura em um país onde a pobreza é generalizada e metade da população ganha menos de um dólar por dia. Entretanto, o país produz em um ano mais filmes do que Hollywood e Bollywood juntos. Observe a comparação, segundo dados de 2009 da revista Época Negócios:


     O formato de exibição dos filmes na Nigéria também é muito peculiar. Não há glamour algum nas produções ou na exibição dos filmes. As salas que exibem a produção local (porque as “salas oficiais” são dominadas por produções hollywoodianas) são pequenos espaços que geralmente comportam menos de 30 pessoas. Além das cadeiras, uma televisão e um DVD formam a mobília desses locais.

     Fora a larga produção em vídeo, a Nigéria vende imediatamente em barracas ou pequenas lojas espalhadas pelos centro comerciais, os filmes realizados em seu território. Um fato curioso sobre a exibição e venda dos filmes nollywoodianos é que além dos camelôs da cidade de Lagos (cidade sede e fundadora da indústria nollywoodiana), todo o país tem acesso a esses filmes, num mercado que cobra de 200 a 500 nairas (cerca de R$5,00) por DVD. O mesmo acontece com boa parte dos países da África negra que consomem as produções nigerianas. Em Benin, por exemplo, os filmes nollywoodianos são exibidos publicamente com comentários de um narrador (legendas em filmes africanos é algo complicado, uma vez que boa parte dos habitantes não é alfabetizada), o que nos remete à uma característica do primeiro cinema, a pessoa do comentador, que narrava a história dos filmes para os espectadores. 

     A maior parte dos filmes é falado em inglês, a língua oficial do país, mas também existem filmes em hausa, iorubá, ibo e edo, a língua dos principais grupos étnicos do país, sendo o iorubá o mais comum, porque é a etnia predominante em Lagos.

Genevieve Nnaji, a cultuada estrela nollywoodiana, de 24 anos, 

que já é capa de revistas pelo mundo. 

     Independente do valor ou qualidade de seus filmes, Nollywood é um exemplo de como um mercado terceiromundista pode alcançar importante representação mundial. Hoje, diversos meios midiáticos procuram trazer notícias da produção de cinema nigeriana e de sua evolução. Alguns documentários sobre Nollywood já foram realizados, dentre os quais podemos destacar:

1 – This is Nollywood (EUA, 2007) – dirigido por Franco Sacchi;
2 – Welcome to Nollywood (EUA, 2007) – dirigido por Jamie Meltzer;
3 – Nollywood Babylon (Canadá, 2008) – dirigido por Samir Mallal e Ben Addelman.

     Para finalizarmos, vamos expor algumas imagens do aclamado fotógrafo sul africano Pieter Hugo, que entre 2008 e 2009 esteve na Nigéria e fotografou os bastidores de alguns filmes de Nollywood. As fotos são do site do artista, e algumas já estiveram no Brasil, na 27ª Bienal Internacional de São Paulo. Todas as fotos que se seguem fazem parte da série “Nollywood”, de Pieter Hugo.
















CONFIRA O TRAILER DO DOCUMENTÁRIO THIS IS NOLLYWOOD (2007)



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