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Luiz Santiago (Plano Crítico)
por Luiz Santiago
Muito diferente de As Flores de Kirkuk, filme de caráter político, traçado a partir de um romance, Nº 89 Shimen Road é uma película muito bem realizada, e com um trabalho artístico e um roteiro altamente chamativos. A história de um garoto apaixonado por fotografia, que cresce na conturbada China pós Mao, é, literalmente retratada pelo diretor, e a nuance fotográfica é tão bela, que carrega em si parte do sucesso da obra.
Na abertura e no fechamento do filme vemos as fotografias que contam momentos da vida do protagonista e narrador. Sua paixão pela vizinha e amiga Lanmi, sua decepção amorosa, a mudança em sua vida a partir das manifestações políticas do país; tudo parece ser capturado por uma objetiva precisa e onipresente. A planificação do filme é de caráter imediato: ângulos, planos e objetos na tela parecem ser vistos e tomados com a máxima urgência, desavisadamente, como na obra de Henri Cartier-Bresson, fotógrafo citado no filme.
O que nos incomoda é o leve despropósito de algumas situações, que num cômputo geral, acabam por gerar no espectador uma má impressão. À exceção desses momentos, temos um drama romântico e levemente político de qualidade acima da média. A trilha sonora é muito bonita e a direção de arte e simpatia dos atores protagonistas são bons destaques. Vale também dizer que a oposição política sobre as diferentes fases da história da China é algo muito interessante de se ver porque estão plenamente integradas à trama. O epílogo no estilo documental é propício e bem realizado. Nº89 Shimen Road vale a sessão, e embora não seja um filme plenamente satisfatório, diverte e encanta a diversos tipos de exigências cinematográficas.
* Filme visto na 35ª Mostra Internaciona de Cinema em São Paulo
Nº89 SHIMEN ROAD (Hei Bai Zhao Pian, China, Holanda, 2011).
Direção: Haolun Shu
Elenco: Ewen Cheng, Xufei Zhai, Lili Wang, Shouqin Xu, Yang Xiao.
FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.
