por Nuno Reis
Por várias vezes tentei escrever este texto, mas por vezes meras palavras não são o suficiente para falar de um filme. A rubrica deste mês é a justificação que faltava para falar sobre um dos maiores títulos de sempre da animação.
Enquanto nos filmes para a gente grande, quando mudamos de filme, os atores adotam personagens diferentes, para uma criança, os heróis dos filmes são sempre os mesmos. A vantagem dos desenhos animados dos grandes estúdios é que o Bugs Bunny será sempre o Bugs Bunny e o Pato Donald será sempre o Pato Donald. O único problema é que esses heróis não se encontravam. Um dia, tudo mudou. Um estilo de filme para gente grande, o film noir, foi buscar todos os heróis Disney, Warner, Paramount, MGM e Walter Lantz. Faltava a Hanna Barbera, mas com estes todos que se iria lembrar?
A história acompanha Eddie Valiant, um detetive que odeia animação e investiga um crime nos estúdios. O principal suspeito do homicídio é um ator/comediante de nome Roger Rabbit. Roger é um desenho animado e é um coelho. Para isso Eddie vai investigar o coelho e a mulher, a sensual cantora Jessica. Perdido num mundo que odeia e desorientado com o álcool ingerido e todas as pistas em falso, Eddie vai acabar por se aliar ao coelho numa corrida contra o tempo para salvar o mundo. Outro detalhe importante é que Roger tem como ídolo máximo Goofy (Pateta), o humorista mais bem sucedido da Disney.
O mundo do cinema rende-se à animação, a animação rende-se ao film noir, o espectador rende-se a tudo.
Se fosse preciso um filme para justificar a necessidade que temos de cinema, este seria uma das primeiras escolhas. Quem não gosta de cinema muda de opinião, quem gosta passa a adorar, quem adora seguramente quer ver “Who Framed Roger Rabbit” muitas vezes mais. Mais de vinte anos passaram desde o lançamento desta obra e continua a causar o mesmo impacto. É essa a definição de clássico.
Agora que a Disney tem Pixar e Marvel, agora que temos Dreamworks, não seria hora de porem de lado as divergências e as guerras econômicas? Não poderiam apenas por uma segunda vez juntar-se sob a batuta de um coelho independente para darem ao público um filme feito com o coração? Se o Cinema é uma máquina de fazer sonhos, digo que é disto que são feitos os sonhos. Deixem-nos sonhar mais uma vez.
UMA CILADA PARA ROGER RABBIT (Who Framed Roger Rabbit, EUA, 1988).
Direção: Robert Zemeckis
Elenco: Bob Hoskins, Christopher Lloyd, Joanna Cassidy, Kathleen Turner, Stubby Kaye, Alan Tilvern, Joel Silver, Richard LeParmentier, Lou Hirsch, Betsy Brantley, Paul Springer
FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.