por Letícia Magalhães
Quais os ingredientes para um autêntico filme noir? Apenas a fotografia em preto-e-branco? A presença de uma femme fatale? Um protagonista hesitante? Narrações em flashback? Reviravoltas no enredo?
Talvez todos eles. Talvez poucos deles, a exemplo de “A Embriaguez do Sucesso / Sweet Smell of Succes” (1957), uma sinfonia bicromática novaiorquina. Sidney Falco (Tony Curtis) faz de tudo para ter sucesso profissional, nem que para isso precise realizar um trabalho sujo para o colunista J. J. Hunsecker (Burt Lancaster). Seu serviço é acabar com o romance entre um simpático músico e a irmã superprotegida de Hunsecker.
Um enredo tão ácido não agradou o público na época da estreia. O filme foi um fracasso de bilheteria, não agradou aos críticos nem à Academia. Com o passar dos anos, da mesma forma que tantos outros grandes clássicos, “A Embriaguez do Sucesso” foi revista e finalmente apreciada com outros olhos e o cinismo aprendido no cotidiano, capazes de fazer os novos espectadores esboçarem um sorriso quando Lancaster dispara uma de suas magníficas frases de efeito. Frases memoráveis, aliás, existem aos montes durante o filme, sempre acrescentando algo com classe e perspicácia.
Além das atuações poderosas de Lancaster e Curtis como os inescrupulosos jornalistas (profissão geralmente retratada como uma faca de dois gumes, com seus profissionais seduzidos pelo poder e freados pela ética) e de Susan Harrison e Martin Milner como o inocente casal a ser destruído, a música também merece destaque. Uma viagem deliciosa à era do jazz, em grande estilo, nos é permitida com a trilha sonora.
A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO (Sweet Smell of Success, EUA, 1957).
Direção: Alexander Mackendrick
Elenco: Burt Lancaster, Tony Curtis, Susan Harrison, Martin Milner, Jeff Milner, Sam Levene, Joe Frisco, Barbara Nichols, Emile Meyer, Edith Atwater, The Chico Hamilton Quintet.