Não é segredo para ninguém que o cinema argentino já foi maior em produção e em qualidade que o cinema brasileiro. Embora hoje essa realidade não exista mais, pode-se afirmar que em certos aspectos, o cinema argentino nos ultrapassa, e um desses exemplos encontramos em XXY, uma admirável película de Lucía Puenzo sobre a (homo) sexualidade.
O filme aborda uma questão difícil e polêmica em todos os sentidos, e consegue dar conta de tudo, sem ser demasiado ou minimizar a trama em favor deste ou daquele personagem. O desejo e os sentimentos trabalhados no roteiro, estão juntos, mas aparecem na tela da forma mais natural possível: não demonstrados, escondidos, forçados, em explosão.
O filme é seco, objetivo, não sobram tempos mortos ou cenas-encaixe para que a trama fique mais palatável. Em alguns momentos o constrangimento se sobressai. Somos inseridos em um mundo pouco explorado e não sabemos como reagir a respeito.
A protagonista do filme, vivida por Inés Efron, é de uma complexidade incrível. No melhor estilo “não expressão”, a garota sustenta sua personagem com uma força e um indiferença impressionantes.
Tudo em XXY dá certo. O roteiro é muito bem escrito e finalizado, a direção de Lucía Puenzo é precisa, e a fotografia escura, com predominância dos tons de cinza e azul, dá um ar lúgubre e angustiante ao filme. Um filme sensível e duro. Embora tenha sido coproduzido pela Espanha e pela França, XXY permanece como um dos grandes e admiráveis trabalhos do cinema argentino.
XXY (Argentina, Espanha, França, 2007)
Direção: Lucía Puenzo
Elenco: Ricardo Darín, Valeria Bertuccelli, Germán Palacios, Carolina Pelleritti, Martín Piroyanski, Inés Efron, Guillermo Agelelli, César Troncoso, Jean Pierre Reguerraz, Ailín Salas
FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.