...Decepticons e Decepções
por Adriano de Oliveira
O prólogo de Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011), lembrando Armageddon (1998) por seu tom solene, voice over e ambientação, é disparadamente a melhor parte do filme. Depois dali, pouca coisa há de memorável no terceiro episódio da saga dirigida por Michael Bay.
Aliás, o diretor confunde preguiça com autoralismo e faz deste longa deTransformers uma sucessão de déjà-vus, quase todos mal-ajambrados. Sequências de seus filmes anteriores são utilizadas de modo repaginado, mas sem a mesma intensidade, quiçá inspiração. E quando há algo de novo, não funciona direito.
Claro que a obra não é pior do que o exemplar anterior da série, o sofrível A Vingança dos Derrotados (2009), até porque não haveria como, porém se ressente de um esgotamento por parte de seu diretor, cada vez mais previsível em suas soluções visuais e sem apresentar uma sequência vibrante de ação desde A Ilha - já faz quase seis anos. Por sinal, o desenho de ação de O Lado Oculto da Lua, ao reciclar, como já falamos, elementos de longas antecessores, mostra que a criatividade de Bay se exauriu também nesse sentido. O produtor Jerry Bruckheimer parece lhe fazer falta na parceria e na liberdade de ideias: recordemos que aqui ele tem de se reportar a um mito moderno como Spielberg na produção e obedecer à sua visão "público amplo + venda de produtos associados".
Para além disso, as duas horas e meia de duração do filme se mostram excessivas e o cansaço da plateia é indisfarçável. Lutas enfadonhas em cena entre os robôs alienígenas Autobots e Decepticons e barulheira em níveis altos por muito tempo contribuem para que isso ocorra. Sim, os efeitos especiais apresentados são maravilhosos, mas não seguram um conjunto fílmico que vai se esvaziando drasticamente à medida em que a projeção avança. O humor funciona em poucas das várias passagens em que é invocado e as atuações são abaixo da média até mesmo para um blockbuster de onde não se exige muito em tal campo. Shia LaBeouf presumivelmente é o astro pop de menor carisma que Hollywood já deve ter produzido. Frances McDormand aparece desconfortável contracenando com uma tela azul e só melhora quando tem de dividir a cena com John Turturro, este um tanto mais à vontade. John Malkovich, que já mostrou não ter problemas de ser caricatural quando o papel pede, como em Johnny English (2003) e Red - Aposentados e Perigosos (2010), se apresenta dispensável. Patrick Dempsey constitui um vilão pouco convincente (desculpem o spoiler). A inglesa Rosie Huntington-Whiteley, modelo da grife Victoria's Secret, funcionando mais como chamariz para o público masculino, não compromete enquanto atriz como poderia se esperar de uma novata. O roteiro de Ehren Kruger (do ótimo O Suspeito da Rua Arlington, 1999) somente vai bem na parte em que "revisa e adapta" para a dramatização fatos históricos acerca da corrida espacial em meio à Guerra Fria nas décadas de 1960 e 70. Já a trilha incidental de Steve Jablonsky e a fotografia de Amir Mokri, ainda que competentes, renderam melhor em trabalhos do passado junto ao mesmo realizador.
Para os que não gostam da montagem em estilo de videoclipe que é característica dos filmes do diretor, uma boa notícia: este longa de Bay tem a edição menos frenética desde Pearl Harbor (2001), e isso ocorre porque houve de se "desacelerar" a montagem de cenas para que os efeitos em 3D nelas presentes fossem visualmente compreensíveis. Falando nisso, é possível que o emprego do recurso da terceira dimensão melhore um produto que em cópia convencional (como aquela que o autor deste texto assistiu) deixa a desejar.
TRANSFORMERS: O LADO OCULTO DA LUA (Transformers 3: Dark of the Moon, EUA, 2011).
Direção: Michael Bay
Elenco principal: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Tyrese Gibson, Josh Duhamel, Patrick Dempsey, Frances McDormand, John Malkovich, John Turturro, Ken Jeong, Kevin Dunn.
FILME REGULAR. ASSISTA SE TIVER TEMPO.