por Luiz Santiago
Ainda sustento que Os Sapatinhos Vermelhos é a obra-prima absoluta da dupla de diretores britânicos Michael Powell e Emerich Pressburger, mas essa adaptação da ópera de Jacques Offenbach não decepciona em nada ao espectador, e mais uma vez mostra a capacidade desses cineastas em transformarem o musical em pura e irresistível magia.
O filme é a narração de três contos, e possui atos claramente independentes, além de uma Abertura e um Epílogo. Os Contos de Hoffmann é uma explosão de arte. Os cenários fantásticos e as sequências cada vez mais surreais, conforme a história cresce, arrebatam o espectador para as narrativas dos amores frustrados. Quem assistiu ao monumental Tetro (Francis Ford Coppola, 2009), provavelmente deve saber que a cena da boneca despedaçada foi retirada desse filme.
A abertura e os dois primeiros contos são ótimos. Tudo funciona perfeitamente bem, das atuações à música. A minha antipatia pelo terceiro conto (o “Conto de Antônia”) vem desde a primeira vez que ouvi a ópera. Não consigo gostar de jeito nenhum. Talvez por isso eu não goste do desfecho desse filme. Mas essa implicância pessoal não se estende para o produto todo, e afirmo que a obra é uma das melhores adaptações de ópera já realizadas, em par com o trabalho de Bergman em A Flauta Mágica de Mozart, e de Danièlle Huillet & Jean-Marie Straub em Moisés e Arão ou em Entre Hoje e o Amanhã ambas de Arnold Schoenberg.
Os Contos de Hoffman é um filme cheio de mistério, intriga, maldade e horror. Uma preciosidade do cinema. Obra obrigatória para todos os cinéfilos. Mas reafirmo: eu não gosto do final.
OS CONTOS DE HOFFMAN (The Tales of Hoffmann, UK, 1951).
Direção: Michael Powell e Emerich Pressburger
Elenco: Moira Shearer, Ludmilla Tchérina, Ann Ayars, Pamela Brown, Léonide Massine, Robert Helpmann, Frederick Ashton, Robert Rounseville, Mogens Wieth.