6 de jul. de 2011

Harry Potter e a Ordem da Fênix



por António Reis



     O envelhecimento dos heróis em cinema é um processo normalmente traumático. Veja-se Stallone a regressar penosamente a Rocky, Bruce Willis a escapar-se menos mal em Die Hard e Radcliffe a passar para a adolescência fingindo mal que é pré-adolescente. Adaptar o volume cinco da saga é um processo complexo, sobretudo por estar condicionado pelo próprio texto literário e, não menos importante, estar condicionado pelo visual dos filmes anteriores. Neste sentido a escolha de David Yates compreende-se no pressuposto de que o filme decorre como se de um seriado de TV fosse. Escorre lentamente, sem grandes picos narrativos, sem emoção e quase sem história, seguindo com fidelidade aquilo que o livro já tinha sido: uma seca.

     No fundo percebe-se que Harry Potter está a entrar na adolescência e que a crise da adolescência em Hogwarts não é muito diferente das escolas normais. Se os personagens se debatem com os seus próprios fantasmas e medos, não admira que o público a que se destina este Harry Potter pareça ser mais os que acompanharam o crescimento dos personagens e estarão assim no mesmo estádio de desenvolvimento. A ideia poderia ser interessante, fidelizando o público que acompanha o herói desde o início, mas tem o risco de poder alienar audiências mais jovens e por isso não se augura o mesmo sucesso de bilheteira que os anteriores. Pode-se reforçar os efeitos visuais, mas algumas das melhores ideias em termos de efeitos parecem já esgotadas. Chris Columbus conseguiu dar humor ao filme, Cuarón faz uma incursão num universo mais 
dark, Newell conseguiu acentuar o carácter mágico e onírico, Yates limita-se a gerir o processo sem grande talento.

     Quando a história começa a enveredar pelo cliché do personagem em luta com o seu alter-ego maligno, quando o bem e o mal se confundem, talvez mesmo só a mão de Del Toro, caso se confirmem os palpites de espectadores mais clarividentes, poderá salvar Harry Potter do 
flop. Harry pode estar em vias de acabar o curso, mas o seu futuro pode ser o desemprego. Aos sete livros previstos da saga pode estar a acontecer o mesmo que ao espetáculo das sete maravilhas. À falta de ideias começa-se a “engonhar” como diriam os Fedorentos.





por Nuno Reis


     Depois de um ano de interregno nas estreias, o feiticeiro mais famoso do mundo volta às ecrãs. Associado ao acontecimento histórico que é o lançamento do último livro – aguardado há mais cinco anos com uma expectativa incomparável – Harry Potter vai ser a personagem de ficção mais falada dos próximos meses.

     Neste episódio Harry tenta alertar o mundo os feiticeiros para a chegada eminente de Voldemort. Dumbledore secunda-o no aviso, mas o Ministro da Magia tenta a todo o custo desacreditar tanto o estudante como o professor. Para o ajudar nessa missão de descrédito, Fudge coloca uma das suas assistentes ministeriais a controlar a escola e aquilo que é ensinado. Toda a disciplina de Defesa Contra a Magia Negra, fulcral para a sobrevivência num combate contra criaturas ou feiticeiros malignos, é resumida a um curso básico e exclusivamente teórico. Temendo que Voldemort tenha o caminho livre para destruir tudo e todos, Harry irá tomar em mãos a missão de ensinar isso aos seus colegas. E enquanto a escola se torna uma ditadura os gémeos Weasley tudo fazem para se rebelarem contra Mrs Umbridge e para darem alguma alegria aos jovens alunos.

     Fazendo a comparação com o filme mais próximo, “O Cálice de Fogo”, tem menos voos de vassoura, menos criaturas, mais feitiços e uma enorme vantagem: apesar de tudo o que retiraram ao livro é uma história fácil de perceber e acompanhar sem necessidade de uma leitura anterior.

     Este capítulo tem uma desvantagem logo à partida pois é baseado no livro mais simples de todos. O filme tem um início frouxo e que se alonga demasiado, quando finalmente começa a ter ação, resumem tudo em meia hora e sem referir alguns dos pontos mais importantes do livro. Quem não acompanha a saga não verá nada de extraordinário em mais um filme sem início nem fim bem definidos, pode substituir uma leitura do livro mas não é independente da série.

     O 
blockbuster irá bater recordes por voltar a ter estreia simultânea em todo o mundo e poderá mesmo ser o último grande êxito da saga. Os livros apesar de cativantes vão-se tornando menos apelativos e o mesmo sucede com os filmes, especialmente com os intervalos que fazem entre eles. Cada vez mais considero a saga merecedora não de sete visionamentos isolados mas de uma maratona de 20 horas.


HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX (Harry Potter and the Order of the Phoenix, EUA, UK, 2007).
Direção: David Yates
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Gary Oldman, Imelda Staunton, Robert Pattinson, Ralph Fiennes, Brendan Gleeson.


FILME REGULAR. ASSISTA SE TIVER TEMPO.

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