13 de jul. de 2011

Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005)


por Luiz Santiago


     Podemos dizer que a ação – como a conhecemos do gênero cinematográfico – só acontece de fato na saga Harry Potter a partir do terceiro episódio, O Prisioneiro de Azkaban. As duas obras anteriores são incursões pouco abrangentes – porém, boas – no mundo bruxo, e trazem muitos resquícios da infância das personagens, ou seja, riscos locais apenas, nada de “perigo global” ameaçando ninguém diretamente... A partir do terceiro ano em Hogwarts, no entanto, as forças das trevas começam a se erguer, e foi aí que tanto a franquia Harry Potter quanto o número de fãs cresceram vertiginosamente.

     O Cálice de Fogo é o quarto filme da série, e apresenta-se como um dos menos piores (embora definir isso nessa franquia seja algo bem complicado, dada a relação que cada espectador tem com o filme ou o livro, logo, falamos de algo puramente subjetivo...), em diversos aspectos. O primeiro e principal deles é a grandiosa reviravolta ocorrida no próprio livro (o maior dos quatro, até então), que traz aos leitores e futuros espectadores toda uma organização burocrática da magia, apenas sugerida anteriormente; e também o grande acontecimento da história, que é o retorno de Lord Voldemort. A incrível linha de acontecimentos que cercam o Torneio Tribruxo desde o começo, no ataque dos Comensais da Morte na Copa do Mundo de Quadribol, já indicam o tom de toda a obra, e esse tom é bem capturado por Mike Newell, embora minha tendência fosse a de odiar essa obra pelo viés desportivamente viciado do diretor. Mesmo assim, acabo gostando dela, num cômputo geral.


     Desde o primeiro filme, é inegável o bom uso dos efeitos especiais e visuais na série Harry Potter. Produtos da era da computação gráfica e dos tremendos avanços no uso das tecnologias para fins cinematográficos, os filmes do menino bruxo concentram uma das mais felizes linhas desses efeitos no cinema atual. Em O Cálice de Fogo, eles não se apresentam só como efeito pirotécnico, algo puramente visual, mas integra-se de modo orgânico à história narrada. A chegada das duas escolas a Hogwarts, é também um evento para o filme, porque pela primeira vez traz um número absurdo de figurantes, algo que seria mais comum nos filmes seguintes. Aliás, O Cálice de Fogo já em suas primeiras cenas mostra-nos uma grande aglomeração de pessoas.

     A ameaça ao mundo bruxo é enorme, e infelizmente o filme não nos mostra a contento que tudo diante de nós é um controle das trevas para que haja o seu triunfo no final – uma das falhas da adaptação. Confiar em quem, numa época em que tudo desaba? Essa pergunta assusta mais do que responde a dúvida, mas certamente é o que inquieta os jovens estudantes, principalmente o trio protagonista, que chega a pressentir algo, mas não sabe o quê. Para um espectador mais atento, a repetição de que havia alguém usando a poção Polissuco pode ser um indício válido de que as coisas não são o que parecem, mas certamente essa detalhe escapou (pelo menos em parte) aos que não leram o livro.


     Todas as sequências que abarcam as provas do torneio são muitíssimo bem dirigidas. Gosto especialmente das duas últimas provas, exatamente na ordem em que acontecem: o lago, e depois, o labirinto. O ressurgimento de Voldemort é uma transposição digna de ser aplaudida de pé, tanto pelos ângulos escolhidos no momento da rápida metamorfose, quanto no ritmo e atmosfera de toda a sequência que precede o Priori Incantatem. A fotografia de Roger Pratt segue mais ou menos a mesma iluminação escolhida por ele em A Câmara Secreta. As tomadas internas são muito claras e aconchegantes, enquanto as externas contemplam dias nublados e fechados. A coloração acinzentada da sequência do cemitério é bela e macabra ao mesmo tempo, e essa atmosfera junto à atuação de Ralph Fiennes, basta para coroá-la como uma das melhores de toda a série.

     Por falar em atuação, percebemos nesse filme que os protagonistas cresceram um pouco em presença cênica, embora eu defenda que Daniel Radcliffe só viria atuar de verdade em A Ordem da Fênix, a sua fase mais antipática dentro da série. O elenco de apoio está, como sempre, muito bom, é difícil esses atores britânicos experientes trazerem coisas muito ruins para a tela, e eu sempre destaco Alan Rickman no papel de Severo Snape, e aqui também, a presença maravilhosa de Brendan Gleeson como Alastor Moody. Sobre a participação de Robert Pattinson como Cedrico Diggory, é melhor não comentar...

     O Cálice de Fogo é o início da vida de Voldemort e do perigo à solta. Diferente do filme seguinte, e especialmente do sexto episódio da série, este é um exemplar até que bem parado, embora tenha algumas reviravoltas, e já algo de tragédia, como um prenúncio de todas as mortes e horrores que viriam, aparece ao fim do filme. A guerra bruxa começa, de fato, em O Cálice de Fogo.


HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO (Harry Potter and the Goblet of Fire, UK, EUA, 2005).
Direção: Mike Newell
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, David Tennant, Robert Pattinson, Tom Felton, Stanislav Ianevski, Michael Gambon, Maggie Smith, Alan Rickman, Ralph Fiennes.


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.

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