por Luiz Santiago
Embora nem todas as canções dos irmãos Gershwin façam jus ao nível a que Funny Face (1957) pretendia chegar, podemos dizer que o filme só decolou por causa dessas canções. O grau de inventividade e variedade musical dão a esse filme um excelente nível cênico e psicodélico, especialmente com as ousadas coreografias (e deliciosamente estranhas, diga-se de passagem), desenvolvidas por Fred Astaire, com destaque para o balé de Audrey Hepburn num pub suburbano de Paris.
A fotografia segue o mesmo ar de psicodelia das danças, remodelando o que se conhece de Paris. Nem é preciso dizer que os figurinos são inesquecíveis, e a boa direção de Stanley Donen consegue disfarçar bem as falhas do roteiro. A forma-produto de Cinderela em Paris é bem vanguardista, e se olharmos para as produções da Paramount na década de 1950, veremos que nessa categoria técnica, Cinderela em Paris sai na frente, mesmo que O Maior Espetáculo da Terra, de DeMille não seja um filme muito “normal”.
Os fotogramas isolados, a experimentação com cores e a ótima ligação dos números musicais com a trama fazem desse filme um adorável exemplar da era clássica do gênero musical em Hollywood. Uma outra coisa que merece destaque é a quantidade de tomadas externas, algo um pouco incomum em musicais. Paris é realmente bem aproveitada, com locações que vão dos cartões postais às vielas esquecidas. O toque suave e impressionista da cena final é de uma beleza quase bucólica. Embora não seja um filme que funcione 100%, vale muitíssimo a pena ver e degustar. Cinderela em Paris é simplesmente um espetáculo delicioso.
CINDERELA EM PARIS (Funny Face, EUA, 1957)
Direção: Stanley Donen
Elenco: Audrey Hepburn, Fred Astaire, Kay Thompson, Michel Auclair, Robert Flemyng, Dovima, Ruta Lee, Jean Del Val, Virginia Gibson, Sue England, Alex Gerry.