12 de abr. de 2011

Migrantes (1973)



por Luiz Santiago


     A locomoção de brasileiros dentro de seu próprio território pode ser vista por dois olhares. O primeiro, empreendedor, mais próximo ao dos governos locais, percebe uma providência de mão de obra geralmente muito barata e ideologicamente subserviente. O segundo, segregador, compreende o de parte da população local que vê com ressalvas e asco aqueles “estranhos” em seu território, geralmente ansiosos para terceirizar o “problema”, incentivando uma locomoção dessas famílias migrantes para a zona rural ou de volta para sua terra de origem.

     Em Migrantes (1973), de João Batista de Andrade, temos essa questão posta de uma maneira curiosa. Através de uma entrevista a um grupo de chamados “marginais” pela população local, o diretor tenta abordar de um modo crítico a questão do apoio social inexistente e a má receptividade dos paulistanos em relação, no caso, às duas famílias nordestinas em baixo da ponte, na região do Parque D. Pedro, em São Paulo.

     Por ser um pouco tendencioso e por tratar de maneira superficial o tema, com alguns intertítulos para explicar a situação seguinte e inserir um momento de crítica, o filme se torna pouco intenso. Mas é impossível tirar-lhe o valor histórico do registro de uma época no Brasil, e vermos que a passagem do tempo não mudou muitas opiniões a respeito e nem as condições de vida de muitos desses infelizes. Um curta que vale mais por esse interesse histórico e antropológico do que pelos conceitos que apresenta, por si só, muito pertinentes, de fato, um problema urbano que recebe o mínimo de atenção possível das autoridades, e como vemos, não é nada recente.


MIGRANTES (Brasil, 1973).
Direção: João Batista de Andrade

FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.

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