2 de mar. de 2011

Pachamama (2009)



por Luiz Santiago 


    Em Rocha Que Voa, o diretor Eryk Rocha apresentou um documentário no mínimo diferente. O olhar fotográfico, lírico, quase romântico, para a Cuba contemporânea, deu ao filme um tom muito peculiar, mas de tanto experimentalismo, algo parecia escapar ao controle do realizador e à percepção do espectador. Em Pachamama, um road-documentário saído da mesma forma que Diários de Motocicleta, de Walter Salles, Rocha faz um retrato sobre a mentalidade e as mudanças ideológico-políticas na América Latina atual, mas o produto final parece um ser etéreo, não se completa totalmente, fica solto. 

     O caráter de manipulação fotográfica de Rocha Que Voa não aparece novamente aqui. Além de dirigir o filme, Rocha foi também responsável pela câmera, e talvez aí esteja a minimização do trabalho imagético para a captação criativa da realidade, acrescida de inventividade na sala de edição. No filme, vários depoimentos e histórias no Brasil, Peru e Bolívia se encontram. Somos apresentados a diferentes paisagens em longas panorâmicas feitas da janela de um carro, a diferentes opiniões políticas e às diversas manifestações sociais que acontecem nos países vizinhos, especialmente em favor da causa andina, em suas mais diversas etnias indígenas.


     Mais político que antropológico, Pachamama é o retrato de um continente que desperta aos poucos para uma mobilização intercontinental. Com citações de Cuba ao Equador, falas de ativistas políticos, trechos de discursos de Evo Morales e reunião e protestos de manifestantes, a questão da terra e da dominação colonial fica como questão periférica, e dá lugar às novas ideias de mudança. O formato usado pelo diretor é muito interessante. Na primeira parte do filme, a narração é a única coisa que nos guia, além da música e do som direto. Conforme o carro avança pela rodovia, ouvimos algumas reflexões daquele que está atrás da câmera, e que não esconde essa posição, inclusive deixando claro que é primeira vez que se ocupa inteiramente do aparelho. Ao chegar na tríplice fronteira Brasil-Peru-Bolívia, a narração dá lugar às músicas e depoimentos locais. No fim, Pachamama peca pela falta de um fechamento mais objetivo. No entanto, sabendo que o filme é a redução de muitas horas de material filmado (inclusive transformado em série para a TV), entendemos a origem desse trabalho “solto demais”. Todavia, a experiência de ver o documentário compensa os seus atropelos formais. 


PACHAMAMA (Brasil, 2009)
Direção: Eryk Rocha.

FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.

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