por Letícia Magalhães
Inovações acontecem o tempo todo, em todo lugar. Nas ciências, na medicina, no dia-a-dia, nas artes. Basta estar atento e saber apreciar o valor dessas inovações. Na televisão, espaço em que muitas vezes “nada se cria, tudo se copia”, boas novidades podem garantir anos de sucesso, reconhecimento em premiações, legiões de fãs e um legado indiscutível.
“I Love Lucy” inovou ao criar o formato da sit.com. Centrada no casal Lucy e Ricky, várias situações cômicas envolvendo vizinhos, família e locais de trabalho se desenrolam, divertindo o público. Pioneira, sem dúvida, mas semente da fórmula repetida em exaustão nas décadas seguintes: as séries cômicas envolviam sempre uma família ou um casal, feliz ou improvável, que se metia nas mais engraçadas confusões.
Tudo mudaria na década de 1990. Ou melhor, um pouquinho antes, no fim de 1989: “Seinfeld” chegava para mostrar o cotidiano de um grupo de amigos. Por que não? Afinal, não dizem que os amigos são a família que nós escolhemos? A sit.com, também inovadora, espalharia a ideia de shows sobre grupo de amigos. E é isso que é Friends, como o nome já diz. Mas não é só isso. É uma reunião de situações jamais imaginadas, beirando o bizarro, com seis adultos que às vezes se comportam como crianças. E não é assim que é a vida?
Rachel, Monica, Phoebe, Ross, Chandler e Joey estão no mesmo patamar. Não há melhores amigos ou desafetos, assim como não havia coadjuvantes. Todos tinham destaque e importância. Suas personalidades, tão ecléticas, se complementavam. E a partir delas surgiriam situações cômicas impagáveis e inesquecíveis.
O atrapalhado paleontólogo Ross Geller era tão infantil quanto seu filho, que vimos nascer na primeira temporada e ser criado pela ex-mulher lésbica do cientista e sua companheira. Seus problemas com as mulheres levaram-no a dois divórcios antes de ficar definitivamente com Rachel Green, final feliz adiado até o último suspiro da série. A ex-patricinha, sua paixão de adolescência, precisou enfrentar a vida após ter abandonado seu noivo no altar. Monica Geller, irmã de Ross, neurótica chef de cozinha e ex-gorda, melhor amiga de Rachel e maníaca por organização. Chandler Bing (só o sobrenome já gerava várias piadas), analista de sistemas sem vocação que usava a ironia como principal ataque e defesa. Phoebe Buffay, moradora de rua na adolescência que se tornou uma artista (como cantora, é de sua autoria o hit “Smelly Cat”) e massagista ingênua e de bom coração. Joey Tribianni, ator e conquistador sem sucesso ou inteligência.
Com personagens tão peculiares, é de se esperar que surgissem naturalmente situações engraçadíssimas. E elas deram um toque todo especial em 10 anos da série. Um meio-bronzeado, um macaco, um pato e um pintinho como animais de estimação, uma irmã servindo de barriga de aluguel para seu meio-irmão (e contando a todos que está grávida do irmão), flashbacks de uma adolescência digna de esquecimento, comemorações de Natal e de Ação de Graças desastrosas, aniversários, casamentos, funerais, viagens, jogos e disputas competitivas, conversas informais que davam origem a divertidas loucuras.
Além de situações diversas e extremamente criativas, um time de convidados especiais fez participações que só acrescentaram ao seriado. Assim conhecemos vizinhos, namorados, ex-colegas, familiares, chefes e agentes, um mais surpreendente que outro. Grandes astros deram vida a esses personagens. Pelo dia-a-dia dos seis amigos já passaram Tom Selleck, Brad Pitt, Reese Whiterspoon, Chrisitna Applegate, Julia Roberts, Bruce Willis e Maggie Wheeler, a inesquecível e irritante Janice, ex namorada de Chandler.