por Dilberto L. Rosa
“Então ninguém te disse que a vida seria assim?/ Seu emprego é uma piada, você está duro, sua vida amorosa vai de mal a pior/ É como se você sempre estivesse em segundo plano/ Quando não é seu dia, sua semana, seu mês, ou até mesmo seu ano, mas/ Eu estarei ao seu lado...”
Estava tudo lá (inclusive as famosas 4 palmas): a já clássica música da abertura, dos Rembrandts (início dos anos 90), anunciava a máxima de uma das séries de televisão de maior sucesso de todos os tempos – “as coisas engraçadas do amor entre amigos”, partindo da premissa de uma jovem patricinha mimada (Jennifer Aniston, a Rachel) que, depois de abandonado o noivo no altar, larga sua vida fácil e vai encarar a dureza de arrumar emprego e morar com antiga colega do colegial, uma ex-gorda obsessiva por organização e ‘chef’ de cozinha (Courteny Cox, a Monica), que é irmã de um paleontólogo abobado e sensível (David Schwimmer, o Ross) e é amiga de uma riponga maluquinha e avoada (Lisa Kudrow, a Phoebe) e de um sarcástico processador de dados (Matthew Perry, o Chandler), que, por sua vez, passa a dividir as despesas do apartamento com um ator canastrão e mulherengo (Matt LeBlanc, o Joey) numa cara e esquizofrênica Nova Iorque – esses eram os ‘Friends’, amigos recém-saídos da faculdade que dividiam os trancos das novas vidas por si próprios, que, entre situações hilariantes e emocionantes, sustentaram brilhantes temporadas por 10 anos.
Desde esse piloto fantástico até o último episódio (onde ficou famoso o rumor de que cada ator ganhava um milhão de dólares por episódio, fora ‘royalties’), cada um dos personagens foi muito bem individualmente delineado, com o mesmo grau de importância em relação aos demais. A fama de “o primeiro programa verdadeiramente conjunto” de todos os tempos (assim batizada pelo criador da série: David Crane, ao lado de Marta Kauffman) esticou suas raízes mesmo para fora do programa: se todos eram os amigos com igual importância nas tramas televisivas, na vida real a união era tanta que até as negociações salariais eram igualitárias, chegando a algumas atrizes (Courteney e Jennifer) a se tornarem comadres!
A primeira temporada, que definiu não só os personagens com suas esquizofrenias nova-iorquinas típicas como também o amplo espectro em tramas pessoais possíveis (namoros entre Ross e Rachel e entre Monica e Chandler, neste caso seguido de casamento, afora uma paixonite de Joey por Rachel nas temporadas seguintes – afinal, amigos às vezes misturam as coisas e se aprofundam um pouquinho mais...), apostou de cara, apesar do inteligente bom humor de sempre, em temas sérios do cotidiano, como o lesbianismo – que, apesar de ter “vitimado” o primeiro casamento de Ross, rendeu grandes confusões quanto ao filho que o “casal de três” esperava.
Falando em episódios, muitos são os favoritos listados entre os milhões de fãs da série – os meus são vários e fica muito difícil de listar aqui... Curiosamente, a maioria deles se encontra já na primeira temporada: tem aquele do jogo de hóquei onde, depois de uma “discada” na cara, um vitimado Ross ao lado de Chandler e Joey vão parar na Emergência (“Aquele com George Stephanopoulos”); tem também aquele em que Chandler, sem querer, vê os seios de Rachel quando esta saía do banho (“Aquele dos seios”); aquele outro em que Joey se apaixona pela irmã gêmea de Phoebe (personagem emprestado de Louco por Você – “Aquele com duas partes”); sem poder esquecer aquele em que Chandler revela acidentalmente que Ross é apaixonado por Rachel no dia do aniversário desta (“Aquele em que Rachel descobre”)... E essa “coisa do aquele” não é invenção de quem esqueceu os nomes dos episódios, não: como os títulos dos episódios não seriam apresentados nos créditos de abertura, os produtores criaram o formato "The One with...” ou “The One where...” – "Aquele", em bom Português, adaptando o estilo coloquial dos personagens (afinal, quem não se lembra da abordagem de Joey pra lá de informal e “chegada” junto às mulheres: “How you doing?”...).
Ao lado de Louco por você e Seinfeld (não por acaso, o episódio-piloto, que foi ao ar em setembro de 1994 – há 17 anos, portanto –, foi exibido entre aqueles dois grandes seriados cômicos), Friends foi o maior seriado cômico e um dos melhores programas da TV norte-americana dos anos 90, largamente premiado e criando formatos e parâmetros para a estética televisiva que influenciam até hoje vários outros – como o ótimo, porém recém-extinto Two and a half men. E aquela primeira temporada foi decisiva para estabelecer as bases das futuras 9 temporadas extremamente bem sucedidas no mundo inteiro. Mas isso já é assunto pra outras conversas... De preferência, uma bem animada no café Central Perk, com a linda Rachel servindo pedidos trocados, rindo das piadas de Chandler (que Joey não vai conseguir entender...), ao lado das ótimas companhias de Monica e Ross, ouvindo um som “estranho” composto e cantado por Phoebe...