18 de nov. de 2010

Bens Confiscados


Um bem precioso


por Adriano de Oliveira


     O mais autoral dos cineastas brasileiros está com novo filme nos cinemas."Bens Confiscados" é a mais recente obra de Carlos Reichenbach, gaúcho de nascimento e radicado em São Paulo.

     Contando uma história que começa girando em torno de um senador corrupto (que jamais aparece em cena, eficiente recurso utilizado também em "Latitude Zero" de Toni Venturi), a qual se desdobra habilmente por entre os demais personagens ao longo de seu desenvolvimento, "Bens Confiscados" fala de dois exílios forçados: o do filho bastardo do político, Luís (Renan Gioeli), e o da enfermeira Serena (Betty Faria, em bela atuação), que é designada para cuidar do jovem. Tal degredo dos personagens é obra do senador, acuado em denúncias, que procura manter o filho secreto longe da mídia durante o escândalo que o acomete.



     Reichenbach emprega a trama para tratar, entre outros assuntos (aniquilação da personalidade, amores impossíveis, poder desenfreado, estigmas do destino), de solidão, o que faz com um raro lirismo, estendendo aqui o estudo que permeia o seu curta "Equilíbrio e Graça", na temática e no uso sentimental de cenas de belezas naturais. A câmera do diretor é um show à parte, fazendo um vasto emprego de travellings e gruas, como pouco se vê no cinema atual. Carlão, como é afavelmente chamado, dá uma mobilidade toda especial à sua imagética com uma bem-vinda fluidez, remetendo ao Tarkovski de "O Sacrifício". A poesia e o intimismo do cineasta são complementados pela bonita fotografia de Jacob Solitrenick (responsável por sublimes trabalhos, como o são"Garotas do ABC" e o recente "Sal de Prata"), fortemente inspirada nos filmes de Fassbinder.


    Além da já comentada boa representação de Betty Faria, temos também as ações competentes de Werner Schünemann, como o peão Lobo - que mais parece o último bastião do machismo gaúcho -, de Antônio Grassi, e do novato Gioeli. Surpreende muito positivamente a atuação da jovem Márcia de Oliveira, no papel de Penha (a oprimida esposa de Lobo), denotando garra e devoção nas cenas em que surge.

     "Bens Confiscados" é mais um bem precioso que Reichenbach nos lega, através de seu estilo único: temática social, personagens femininos lapidando o lado bruto daqueles masculinos, câmera fluida, lirismo, poesia em forma de Cinema.


Artigo originalmente publicado no Cine Revista.


BENS CONFISCADOS (2005)
Direção: Carlos Reichenbach.
Elenco: Betty Faria, Renan Gioeli, Werner Schünemann, Márcia de Oliveira, Antônio Grassi, Fernanda Carvalho Leite, Eduardo Dussek, Marina Person, Sissi Venturin, Beth Goulart.


FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.

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