4 de set. de 2010

Lista nº2: O Cinema como Material Didático - Língua Portuguesa



por Erivoneide Barros
Licenciada em Letras, Psicopedagoga e pesquisadora do Laboratório de Estudos Russos (LERUSS) e do Projeto Sergei Esenstein XXI



Por meio do cinema, é necessário situar os problemas mais complexos do mundo moderno no nível dos grandes problemas que, ao longo dos séculos, foram objetos da literatura, da música e da pintura.

Andriêi Tarkóvski



    Desde seu início, o cinema despertou em seu público fascínio e mistificação. De um lado, encontra-se o poder de projetar na tela cenas do cotidiano ou imagens nunca pensadas que localizam no telespectador um ambiente propício para se propagarem. Na trajetória de cada sujeito, sempre há um filme que representa um espaço ou momento. Por outro lado, surge a curiosidade: como é “fabricar sonhos”? conforme nos disse Bergman.

    É este último questionamento que devemos levar para a escola. Sentar em uma sala de cinema ou na sala de casa para assistir a um filme talvez seja algo recorrente na vida dos alunos, mas olhar a maneira como a película foi construída, reconhecer o trabalho estético do diretor de fotografia, a importância da concepção de arte (ou não) do diretor são exemplos de como o professor pode iniciar essa relação fecunda e promissora em sala de aula.

     Como professora de língua portuguesa, não posso preterir instigar os alunos a conhecerem outras formas de lerem o mundo, outras linguagens. Por vezes, cometemos o grave erro de valorizar o verbal e depois nos indignarmos porque o “aluno não tem cultura”. Não é apenas nos livros que o aluno adquire conhecimento, fato a que a escola do século XXI já deveria ter se adaptado.

     Ensinar uma língua materna, não é apenas ensinar as regras que a compõe, mas inclui ensinar o aluno a interagir com o meio social, desenvolvendo práticas sociais com o intuito de torná-lo um crítico diante do ambiente que o circunda. Assim, as aulas de LP não deveriam se restringir ao ensino de um sistema de signos, mas deveriam ser práticas de linguagem.

    Desse modo, separei algumas experiências que obtiveram resultados favoráveis ao longo de minha carreira docente. Fiz apenas um recorte, porém insisto que a relação cinema-escola encontra muitos pontos de convergência a serem explorados.



O cinema nas aulas de LP

     Embora o foco sejam alunos de língua materna do português brasileiro, o trabalho não precisa ficar restrito à produção do cinema nacional. Tenho consciência de que minha lista privilegia este cinema, no entanto é por uma opção pessoal.


ESTAMIRA

     Documentário, Brasil, 2006, direção - Marcos Prado: O filme retrata a vida de uma moradora de um aterro sanitário do Rio de Janeiro. Estamira, considerada psicótica pela medicina, lança questões perturbadoras sobre a existência, Deus e o mundo. A sua teoria do mundo às avessas nos impele a buscar o que está por baixo, aquilo que preferimos não ver. O documentário é recomendado para alunos do Ensino Médio. A partir do filme, o professor pode preparar os alunos para construírem um debate (gênero oral) sobre a Loucura (afinal o que de fato é ser louco) e complementar essa discussão com a análise da personagem Simão Bacamarte, da obra O Alienista, de Machado de Assis.



A CAUSA SECRETA

     Nacional, Brasil, 1994, direção – Sergio Bianchi: o filme é uma adaptação do conto homônimo de Machado de Assis. É excelente para se trabalhar o conceito de releitura e intertextualidade. Após a leitura do conto e a exibição do filme, proponha uma resenha crítica em que o aluno possa explorar as aproximações e os distanciamentos entre o texto do conto e o roteiro do filme. Caso seja necessário, trabalhe antes com os alunos o gênero roteiro de cinema. Essa proposta pode ser aplicada a alunos a partir do nono ano.



LÍNGUA – VIDAS EM PORTUGUÊS

     Documentário, Brasil/Portugal, 2004, direção – Victor Lopes: O documentário mostra a realidade de falantes de língua portuguesa espalhados pelo mundo. Como é para cada país falante de LP a relação com a língua materna, de que modo os artistas de cada região trabalham a língua como material artístico, são alguns eixos presentes no filme. Há entrevistas preciosas com João Ubaldo Ribeiro, José Saramago e Mia Couto. Caso o professor julgue necessário, selecione apenas trechos para exibir aos alunos.



PALAVRA ENCANTADA



     Documentário, Brasil, 2009, direção - Helena Solberg & Marcio Debellian: o documentário é rico em detalhes sobre a construção da música e da poética brasileira. O docente pode explorar, por exemplo, elementos como a relação música e poesia, tropicalismo e bossa nova.





DOLLS

     Drama, Japão, 2002, direção - Kitano Takeshi: o filme é composto por três histórias típicas do teatro de marionete japonês. O longa é um bom recurso para introduzir o trabalho com a literatura, já que dá elementos para discutir o que é poética e estética. Para o professor conduzir de forma satisfatória este trabalho, é importante que conheça alguns conceitos da linguagem cinematográfica.

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