15 de set. de 2010

Chico ou o País da Delicadeza Perdida



por Luiz Santiago


    O especial Chico ou o país da delicadeza perdida (1990), é um daqueles programas feitos para a TV, que possuem tema e realizadores de primeira linha, e que fascinam o espectador por sua excelência artística.

     O trabalho foi encomendado pela TV francesa FR3, e conta com direção de Walter Salles e Nelson Motta. Nele, a notável dupla faz um recorte para analisar a sociedade brasileira a partir de 1960, quando do início da carreira de Chico Buarque. Desde as delicadas primeiras músicas do cantor, passando pelas críticas ao Regime Militar e as trilhas sonoras dos filmes, o documentário chega ao fim dos anos 1980, pintando um Brasil que padece sob as violentas diferenças entre ricos e pobres, e como plano de fundo ou ilustração, as músicas de Chico, que marcam essa época com criações mais ácidas, expositoras da realidade doente em que vivia o país – Brejo da Cruz, por exemplo.

     Com imagens tomadas de crianças e habitantes dos morros cariocas, e de comunidades à beira-mar, o especial documentário junta imagens do Rio antigo retiradas do filme Rio de Memórias (José Inácio Parente, 1987) e do filme Uma Avenida Chamada Brasil (1988), de Otavio Bezerra. Aí se forma a parte documental, que dará conta dos elementos sociais e da relação dessas questões com a obra de Chico, que nas entrevistas, fala sobre tudo: de sua inspiração feminina para compor algumas canções, até a teoria do “Homem Cordial”, de seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda. O ponto lírico da obra é a apresentação de canções do artista carioca postas entre cada bloco documental específico, cações filmadas em março de 1990 , por ocasião da comemoração dos 25 anos de carreira do músico.

     Por ser um trabalho para a TV, entendemos alguns caminhos mais fáceis tomados pelos diretores, mas determinadas coisas poderiam muito bem não aparecer na tela, como os intertítulos divisórios dos blocos documentais ou a colossal distância temática entre as entrevistas dadas por Chico. Sendo um especial para a tevê, certamente o problema do tempo para narração de um fato foi um obstáculo triste enfrentado pelos realizadores, mas já sabendo a cronométrica atitude dos produtos da telinha, que a abordagem fosse feita de maneira mais una... Vale dizer, que nenhum dois defeitos compromete o resultado final do produto, que é, como já dissemos, muito bom. O especial é uma boa surpresa, e termina deixando aquele gosto de “quero mais”, na alma e nos ouvidos do espectador.


CHICO OU O PAÍS DA DELICADEZA PERDIDA (Idem, Brasil, França, 1990)
Direção: Walter Salles e Nelson Motta.


FILME BOM. RECOMENDAMOS ASSISTIR.

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