26 de ago. de 2010

Encontro Explosivo


OU

Missão: Impossível 4?

por Adriano Oliveira

Coordenador do site Cine Revista e Crítico de cinema (ACCIRS)


     Essa é uma pergunta que um espectador poderia fazer caso entrasse desavisadamente no meio de uma sessão de "Encontro Explosivo", tamanha a identidade entre seus protagonistas - Ethan Hunt daquela cinessérie e Roy Miller deste filme, ambos interpretados por Tom Cruise - e o cenário em comum que as obras possuem, descontando-se o senso autoparódico da última. Falta de criatividade ou preguiça dos roteiristas? Bem, um script tocado por 18 mãos(!) resulta inevitavelmente um sinal de bagunça, para não dizer de ausência de sincronia entre as partes pensantes. Um abacaxi para qualquer diretor.

     E olhe que James Mangold é um cineasta versátil. Certamente ele nunca será um autoralista, mas funciona muito bem a serviço da indústria hollwoodiana, desfrutando de rara competência para fazer o que cair no seu colo. Transitando pelos mais variados gêneros - o policial "Cop Land", os dramas "Garota, Interrompida" e "Johnny e June", o suspense "Identidade", o faroeste "Os Indomáveis" - com incrível eficiência e inclusive certa galhardia, coube a ele incluir no seu curriculum vitae dirigir uma fita de ação, embora não pura mas aditivada de um tempero romântico. Só que contra (e não com, dada a adversidade) um roteiro pouco imaginativo, lotado de clichês e que se precisa assumir como absurdo e fantasioso ao espectador para ser aceito, pouco se dá para empreender de favorável.




     Mangold faz o que pode para salvar a pátria. Começa bem, muito bem. Na sequência do avião, há um bem-vindo desvelamento dos personagens principais, tiradas cômicas, uma coreografia de luta acima da média e duas passagens dignas de serem memoráveis: o embate entre Roy e um oponente visto por um travelling paralelo às janelas da aeronave, e um plano que funciona como"jogo de espelhos" ao cartaz do kubrickiano "De Olhos Bem Fechados" - estrelado pelo próprio Cruise. Tudo o que vem depois disso vai descendo gradativamente a ladeira: uma sequência automobilística apenas boa, um romance que só se sustenta pelo carisma de seus intérpretes (ah, sim, Cameron Diaz continua bela), o bom-mocismo de Tom pela milésima vez, um bombardeio aéreo a uma ilha fora do mapa-mundi(!), situações que se repetem, um clímax acional chocho. A inventividade do diretor dribla alguns obstáculos, como na cena do carro a bordo de um caminhão-cegonha - uma bela brincadeira cinematográfica -, porém esbarra em efeitos visuais por vezes fracos e nas redundâncias do roteiro. Isso para não falar que ele, considerado bom condutor de atores, bate num paredão formado pelos coadjuvantes do filme. Tirando a excelente Viola Davis desperdiçada em seu talento num papel pequeno, os demais não funcionam eficientemente...Peter Sarsgaard fazendo sua habitual cara de sono (aqui parece um pouco, mas só um pouco, mais desperto), o espanhol Jordi Mollà praticamente repetindo o papel de vilão que executou em "Bad Boys 2", Paul Dano desaprendendo de sua brilhante atuação em "Sangue Negro" de P.T. Anderson para voltar aos tempos unidimensionais de "Show de Vizinha".




     Mesmo assim, comparado a outro filme recentemente exibido e dotado da mesma proposta "ação + romance", o esmaecidíssimo "Caçador de Recompensas" estrelado por Gerard Butler e Jennifer Aniston, "Encontro Explosivo" é quase um "Bonnie & Clyde". Sinal dos tempos?



Texto originalmente publicado no Cine Revista.


ENCONTRO EXPLOSIVO (Knight and Day, EUA, 2010)
Direção: James Mangold.
Elenco principal: Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard, Viola Davis, Jordi Mollà, Paul Dano, Maggie Grace.


FILME REGULAR. ASSISTA SE TIVER TEMPO.

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