17 de ago. de 2010

A Vida e a Morte do 9413...


por Luiz Santiago


   Não há arte que melhor faça uso da metalinguagem do que o cinema, especialmente se a empresa é feita por um competente realizador, que pode transformar a sétima arte em um encanto mítico, como podemos atestar em obras do nível de Crepúsculo dos deuses (Billy Wilder, 1950), Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1987), e Império dos sonhos (David Lynch, 2006), e também em A vida e a morte do 9413, um figurante de Hollywood (1928), filme de Robert Florey e Slavko Vorkapich.

   O curta conta a história de John Jones, o figurante 9413, que vai para Hollywood tentar ser ator de cinema. As suas idas e vindas aos testes de elenco, as constantes recusas aliadas à falta de dinheiro para comer e pagar as contas que não param de chegar, acabam causando o seu definhamento, e por fim, a sua morte.

   Os diretores não pouparam referências às grandes estrelas ou ao sistema de estúdios, de escolha de atores, e de como há uma “cartilha da hipocrisia” a ser seguida por cada grande estrela, que representa a imagem da “intocável” o tempo todo.



   John Jones perde a sua identidade para se transformar em um número. Em meio à turba de trabalhadores da indústria cinematográfica, ele é o desconhecido figurante número tal. Pouco tempo depois da primeira recusa, ele passa a ter sonhos perturbadores, sempre ligados a uma riqueza que jamais terá. No meio de sua jornada no “império dos sonhos”, John Jones encontra uma famosa estrela, que, a cada parte de seu discurso usa uma máscara diferente, e as retira, para apreciar os aplausos, que são muitos. Jones chega a comprar uma máscara, mas não consegue usá-la, e o preço é a sua exclusão do star system.

   É completamente surpreendente o resultado obtido pelos diretores, nas filmagens dos cenários-maquete estilizados, como os do expressionismo alemão. A muito clara fotografia do curta intensifica ainda mais essa sensação: uso de luz e sombra em ambientes claustrofóbicos. A história alcança o patamar de um quase conto de terror, e termina de forma crítica, com uma felicidade pós-vida onde o figurante alcançou o queria. A vida e a morte do 9413 é um dos melhores trabalhos, estética e formalmente falando, do cinema avant-garde nos Estados Unidos, e merece ser visto e revisto, já que permanece tão atual, mesmo anos depois.


A VIDA E A MORTE DO 9413, UM FIGURANTE DE HOLLYWOOD (The Life and Death of 9413, a Hollywood Extra, Estados Unidos, 1928)
Direção: Robert Florey e Slavko Vorkapich.
Elenco Principal: Jules Raucourt, George Voya.


FILME ÓTIMO. É IMPERDÍVEL ASSISTI-LO!

Twitter Delicious Digg Stumbleupon Favorites More

 
Powered by Blogger