11 de set. de 2010

Lista nº3: Material Didático - História

O CINEMA COMO MATERIAL DIDÁTICO: HISTÓRIA


por Luciano Portela
Historiador e Crítico de cinema, colaborador das revistas especializadas Cine Revista (Porto Alegre) e Mnemocine.
e
Luiz Santiago
Historiador e Crítico de cinema, comentarista adjunto do Cine Revista (Porto Alegre), colaborador do Mnemocine, e Editor do Cinebulição.

*O professor convidado para compor a lista sobre a Idade Contemporânea não pode entregá-la a tempo, por isso,  nossa lista termina com os filmes da Idade Moderna.


PARTE I

Pré-História, Antiguidade e Idade Média

por Luiz Santiago


     Dentre os materiais didáticos importantes para o professor, penso que o audiovisual ocupa o topo da lista. O cinema, nesse ponto, destaca-se como o material geralmente mais rico. Sendo a “junção das artes”, esta Sétima Musa tem encantos de sobra para dar à sala de aula um “alumbramento didático”. Um filme bem trabalhado pelo professor, e usado no momento certo, pode se tornar um evento único na vida dos alunos.

     Independente das concepções políticas do docente, o cinema nas aulas de História pode e deve ser usado de diversas formas, tantas quantas são a enorme lista de filmes disponíveis para a disciplina. Minha tarefa, nessa seleção, é apenas um recorte da enorme gama de obras existentes, e apenas uma citação da abordagem que trabalho em sala, abordagem essa que se renova a cada ano, acrescida das leituras, cursos e filmografia atualizada.

     Para concluir, chamo a atenção dos professores (ou leitores que, por algum motivo, podem apresentar filmes a uma plateia) para o fato de que toda película trabalhada em sala, deve ser acompanhada de um pequeno projeto de exibição que englobe o momento antes, durante e depois, caso contrário, entramos naquele espaço em que o cinema é um “matador de aulas”. Outro fato importante a ser lembrado, é que, na maioria das vezes, o que interessa em uma obra cinematográfica são apenas algumas cenas. Nesse caso, exibir os trechos realmente importantes é uma atitude mais sensata do que mostrar um filme de 2h, da qual se aproveitará apenas 15min., quando muito.

PRÉ-HISTÓRIA

2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO

Stanley Kubrick, 1968 – Ficção Científica. 
Esse filme mostra a evolução do homem e a sua “perdição” em meio à tecnologia que cria. Após a antológica abertura, há um plano-sequência chamado A Aurora do Homem. Depois de panorâmicas sobre paisagens inóspitas, vemos um grupo de hominídeos, o foco a ser trabalhado. A questão do Monolito é um grande enigma, mas o significado de “aprendizagem” é latente. Logo, podemos chamar a atenção para o fato de que, depois que o Monolito aparece (e isso pode ser a adoção de certos hábitos de vida, adaptações a mudanças climáticas, descoberta de novas formas de caça, etc.), aquele grupo de hominídios aprende coisas valiosas para a sua permanência como espécie, eliminando assim, o grupo que ainda não havia chegado a tal grau de aprendizagem. O ritmo da sequência é bem lento, o que exige do professor uma presença pontual, comentando cada segundo exibido, caso não queira ver alguns alunos dormindo. Pode-se também avançar alguns trechos. A cena que divide a Pré-história da sociedade tecnológica de “2001”, é quando um dos integrantes da tribo joga um osso para cima, que se transforma em uma nave espacial... Uma bela deixa para um debate imediato.


HOMEM PRÉ-HISTÓRICO: Vivendo entre as feras

Pierre de Lespinois, 2002 – Documentário – Discovery Channel. 
Dentre as dezenas de documentários sobre a Pré-história, esse me chamou a atenção porque não se limita a contar a historinha básica do Paleolítico, abordando de modo muito inovador as organizações tribais entre 40 e 12 mil a.C., os modos de caça, a convivência com climas diversos em diferentes lugares do globo, com animais como tigres dentes-de-sabre, mamutes e ursos gigantes, e a descoberta de meios de vida que os permitiram sobreviver em meio às adversidades do período.


A ERA DO GELO 1 e 2

Chris Wedge, 2002; Carlos Saldanha, 2006 – Animação. 
Tanto o primeiro quando o segundo filme (dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, criador do azarado esquilo), ajudam a imaginar a trajetória de povoamento dos grupos humanos e de animais pela Terra. Note-se que bichos como o tatu e a preguiça gigantes também fizeram parte de nossa fauna pré-histórica.


ANTIGUIDADE





OS DEZ MANDAMENTOS

Cecil B. De Mille, 1956 – Épico. 
Penso que o filme de De Mille é muito mais eficaz que a animação O Príncipe do Egito, da Dreamworks, mesmo para o 6º ano. Algumas cenas selecionadas podem dar conta com impressionante força dos assuntos relacionados ao Egito Antigo, e o filme tem dezenas de sequências que podem ser trabalhadas com excelente resultado de aprendizado e ilustração.


TODAS AS PIRÂMIDES DO MUNDO

Steve Gooder, 2001 – Documentário – Discovery Channel. 
Maravilhoso documentário sobre a construção das pirâmides, mas com um “quê” a mais: fala também das pirâmides Incas, Maias e as variações para esses monumentos feitas pelos Chineses. O documentário tem a duração de uma aula (50 minutos), e vale a pena ser visto na íntegra, pois serve de material para o estudo das sociedades americanas e orientais. Assim, já se ganha tempo e visão global sobre o assunto.


KIRIKU E A FEITICEIRA

Michel Ocelot, 1998 – Animação. 
Agora, que temos História da África no currículo, e temos que correr atrás de fontes e materiais para trabalhar em sala, nos espantamos com a escassez de fontes. Essa animação francesa é uma boa salvação. O filme conta uma lenda africana da batalha entre um garoto e uma feiticeira. Muitas questões culturais africanas estão postas para serem observadas e comentadas. Além disso, o espaço geográfico e a organização social também saltam aos olhos.


IDADE MÉDIA





O SÉTIMO SELO e A FONTE DA DONZELA

Ingmar Bergman, 1957 e 1959 - Drama Clássico
Duas obras-primas de Ingmar Bergman que ajudam muito a dar uma visão das estruturas medievais. Em A Fonte da Donzela, interessa a representação do feudo, da casa do senhor feudal e do seu modo de vida, do sincretismo religioso e de como Bergman inseriu algo que não se encontrava nesse período da história: a contestação de Deus. Já em O sétimo selo, numa trama pós-cruzada, interessa as feiras, as pinturas nas igrejas, a relação do homem medieval com a morte, as companhias artísticas, e a religiosidade. Claro que esses temas são apenas os centrais, mais pode-se encontrar muitos outros. Sugiro aos professores que parem e explique as cenas selecionadas, sua composição estética e histórica, etc. Até hoje, só tenho tido excelentes experiências no uso desses filmes.





O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE

Mario Monicelli, 1966 - Comédia
Esse filme pode ser uma mão na roda para o professor “matar” temas como as obrigações feudais e os códigos da cavalaria. Além disso, pode-se encontrar neste filme a peste negra, as cruzadas e as heresias. Por ser uma comédia, e por ter uma grande amplitude de temas, é um dos únicos filmes que eu me atrevo a passar quase na íntegra.



O NOME DA ROSA

Jean-Jacques Annaud, 1986 - Drama
Dependendo da maturidade da turma, esse filme é interessante para mostrar as ordens religiosas e as heresias.





ROBIN HOOD

Ridely Scott, 2010 - Aventura
Esse ano, Ridley Scott lançou a sua versão para a lenda. Minha crítica ao filme não foi muito animadora, mas, do mesmo modo que Cruzada, penso que o uso desse filme para o exercício de crítica sobre a assinatura da Carta Magna e temas próximos, pode ser muito útil. Lembrando que Michael Curtiz e William Keighley dirigiram em 1938, As aventuras de Robin Hood, com Errol Flynn e Olivia de Havillan como protagonistas. Também pode-se usar esse filme como exercício de crítica ou comparação com a obra de Scott.


JOANA D'ARC

Christian Duguay, 1999 - Aventura
Embora o filme de Carl Theodor Dreyer seja o melhor sobre o tema, na minha opinião, é muitíssimo mais difícil usá-lo em sala. Indicaria mais para filosofia do que para história. Como existem diversas versões sobre a história de Joana D'Arc, sugiro que os professores vejam algumas, e escolham a que mais se aproxima de seus intenções em sala de aula. Eu uso essa versão feita para a TV, com Leelee Sobieski no papel principal. Também já usei a versão de Luc Besson.


OS FILMES DE KUROSAWA

São muito raros os materiais didáticos que abordam a história oriental. Caso os professores tenham esse tipo de material ou resolvam tocar no assunto, mesmo que muito rapidamente (acreditem, toma no máximo quatro aulas, e os alunos adoram), eu indicaria os filmes do mestre japonês Akira Kurosawa. Os sete samurais é o principal deles, mas Kagemusha e Ran (uma versão de Rei Lear) também podem ser usados. Eu uso também algumas cenas do primeiro episódio da Segunda Temporada da série Heroes, quando Hiro Nakamura descontrola o tempo e vai parar no Japão medieval. A situação ali trabalhada é inegavelmente um espelho de Os sete samurais.


ANDREI RUBLEV

Esse épico de Andrei Tarkóvski merece ter algumas de suas cenas vistas pelo alunos. Eu sempre trabalho as cenas da pintura dos ícones e as questões de fé entre o Teófanes (o mestre grego) e Rublev (o pintor de ícones). Entretanto, esse não é um filme comum. Jamais tentem passá-lo na íntegra (o que é insano, porque o filme tem mais de 3h de duração). Se trabalhá-lo, comente quadro a quadro das cenas vistas. Pause-o. Não deixe os alunos dormirem, o que provavelmente acontecerá se o filme for largado na TV, sem propósito ou explicação alguma.


PARTE II

Idade Moderna

por Luciano Portela

     O Cinema para mim é como se fosse uma porta, uma passagem mesmo que indireta a determinado tempo que não se existe mais de forma tangível. Esse fascínio foi crescendo através do tempo. Inicialmente trabalhei em uma locadora onde devorava todos os lançamentos possíveis gostava de ouvir as trilhas sonoras, entender os enredos, tentar fazer reflexões mesmo que sem muita consistência sobre os estilos.

     O tempo se passou, comecei os meus estudos na área de História, mas na mesma curiosidade sobre filmes até que, num belo dia um amigo me apresentou um filme do Fellini chamado 8/5. Assisti não entendi nada, mas a fascinação pelo novo estilo de cinema estava enraizada e, daquele momento em diante me tornei um caçador assíduo de obras cinematográficas, as coleções começaram, as leituras sobre cinema também (de cunho teórico), e inclusive a descoberta de historiadores do cinema como Marc Ferro, Christian Delage, Vicent Guigueno foi o que fizeram me sentir cada vez mais à vontade e perceber que é com isso que quero trabalhar.

     Como Trabalhar a concepção cinema-história em sala de aula? Pergunta que deve causar arrepios a muitos professores até porque o universo do cinema é um tanto diferente do universo dos livros e exige um tanto dos jovens, ainda mais na questão de linguagem cinematográfica (visto que muitos alunos apresentam uma dificuldade em trabalhar imagens estáticas como um quadro, uma escultura, uma tira de quadrinhos), a imagem em movimento necessita de extrema atenção, carinho e sensibilidade profunda dos olhos que a acompanha, um filme é feito de imagens contínuas ou não. Então penso que, o ponto de partida seria mostrar para o aluno as referências históricas diretas que existem no longa metragem, para que assim, o mesmo se situe dentro daquele novo universo e isso o propicie a reflexão.

     Deixo aqui uma singela Lista que cumpre alguns períodos históricos do período que nos chamamos de História Moderna (1453-1789).


1492 – A CONQUISTA DO PARAÍSO

 Direção: Ridley Scott
O Filme mostra a primeiro momento a questão de Colombo e sua ida para a América. Sua negociação com a Coroa espanhola para que a viagem seja viabilizada, o cotidiano desgastante do trabalho na nova Terra.
Mostra inclusive as questões de como o Europeu lida com o “outro” uma boa questão para ser colocada em discussão na sala de aula. O filme é mais interessante para alunos de nono ano. Pelo conteúdo em excesso e sua forma didática. Ajudará a complementar as discussões sobre as mudanças econômicas na Europa que são um dos fatores da busca por novas terras. A discussão se tornará mais rica se os alunos tiverem uma aula anterior sobre o Renascimento cultural.


AS BRUXAS DE SALÉM 

Direção: Nicholas Hytner
Em Salém, Massachusetts, 1692, algumas jovens que fazem "feitiços". No fim são acusadas de bruxaria e julgadas até que tenham um trágico fim.
O Filme tem um ponto muito interessante, o da Europa trazendo consigo suas mentalidades de cunho popular. Um ponto essencial a ser tratado em sala de aula é o da questão “O que é Bruxaria?”, “O que é ser Bruxo nesse período?”, apesar de ser um evento ocorrido já nos E.U.A. tem suas raízes na Europa isso deve ser elucidado para os jovens após a exibição do filme. Por fim entenderem qual o sentido disso no mundo contemporâneo se ainda existe sentido a repressão religiosa. Ou indo mais além, até que ponto existe o sagrado ou a simples superstição.


TEMPOS MODERNOS

Direção: Charles Chaplin
O Filme de Charles Chaplin nos conduz as mudanças e a inserção da tecnologia onde vemos o personagem Carlitos fazendo as mais diversas trapalhadas em meio às máquinas, mostrando sua a dificuldades que o ‘novo mundo’ começa a proporcionar.
Esse filme pode introduzir os jovens a questão da ‘indústria’ suas origens, e como ocorreu com a população campestre, os deslocamentos de imigração, as novas relações de trabalho desencadeadas de então.


DANTON, O PROCESSO DA REVOLUÇÃO

 Diretor: Andrzej Wajda
Durante a fase popular da Revolução Francesa, instala-se o período do "terror", quando a radicalização revolucionária dos jacobinos encabeçada por Robespierre inicia um violento processo político com expurgos, manipulação de julgamentos e uma rotina de execuções pela guilhotina.
Danton, líder revolucionário, critica os rumos do movimento, tornando-se mais uma vítima do terror instalado por Robespierre.
O Filme de Wajda nos conduz a um dos eventos mais populares e mais estudados da História (supera até o Nazismo) a Revolução Francesa, evento chave para se entender toda a idade contemporânea tendo lançado conceitos como revolução, direita, esquerda, terrorismo, nação. O filme ajudará os alunos a entenderem a mudança Política da nova sociedade que estava por vir. Bom complemento para Tempos modernos que representa a mudança econômica. 

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