por Pedro Veblen
O Enigma do Príncipe pode não ser a revelação da saga Harry Potter, mas certamente é um dos filmes mais densos da série. O diretor David Yates teve aqui o mérito de trazer um livro bastante teórico para as telas de um modo muito satisfatório.
Embora haja uma infantilização desnecessária e os amores adolescentes tenham minimizado bastante o valor geral do filme (com o foco desportivo de Mike Newell em O Cálice de Fogo), o apuro estético contido nas diversas sequências de magia e a grande jornada de Harry ao lado de Dumbledore (mais sentida no livro do que no filme), fazem dessa obra uma boa e sombria diversão.
Com a ascensão do Lord das Trevas, a comunidade bruxa procura ao máximo minimizar os efeitos que isso pode causar às suas vidas, mas a agressão dos Comensais da Morte, cada vez mais agindo abertamente, só mostra o quão complexa é a situação do mundo bruxo. Uma comparação com a ascensão de qualquer regime fascista não seria deslocada, e podemos observar essas semelhanças de uma melhor forma se nos atermos ao discurso de Voldemort e seus seguidores, como a primazia pelos bruxos de “sangue-puro”, etc. Tanto na obra literária quanto no cinema, O Enigma do Príncipe é uma espécie de ponte para a longa jornada e futura batalha que ocorreria em Hogwarts mais adiante.
Há um deslocamento das aulas, do funcionamento interno de Hogwarts para algo mais “solto”, e o roteiro do filme, nesse sentido, sofre bastante. Mas a compensação aparece nas “viagens” feitas por Harry, com destaque para a ótima animação feita “com tinta” em relação à penseira (muito diferente da que conhecemos no filme anterior) e em toda a longa sequência de Dumbledore e Harry na busca da Horcrux num rochedo perdido do Mar do Norte. Um dos ótimos momentos visuais no filme é o feitiço lanado por Dumbledore, que afasta os mortos do lago. Na mesma medida, vejo que a morte do diretor de Hogwarts é de deplorável alcance dramático, com uma secura que não convém à cena. Esperava algo bem diferente.
O final do filme é realmente o seu ponto mais fraco. Apesar de todos esses elementos, O Enigma do Príncipe não é um filme tão odioso quanto pintaram-no alguns fãs. Vale uma boa e tensa sessão de cinema, apesar do ar de romance adolescente contrastando com a realidade trágica em que viviam naquele momento.
HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE (Harry Potter and the Half-Blood Prince, UK, EUA, 2009).
Direção: David Yates
Elenco: Daniel Radcliffe, Michael Gambon, Jim Broadbent, Bonnie Wright, Rupert Grint Emma Watson, Tom Felton, Alan Rickman, Helena Bonham Carter







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Luiz Santiago (Plano Crítico)


