30 de set. de 2010

Batman Begins




AS DUAS PALAVRAS ESSENCIAIS


OU 


UM NOVO INÍCIO

por Adriano de Oliveira


     Teatralidade e ilusionismo. Essas duas artes que o jovem Bruce Wayne (Christian Bale), futuro Batman, aprende junto à Liga das Sombras - entidade milenar que combate o crime - na verdade se revelam as palavras-chave de"Batman Begins". A veia teatral vem de um roteiro caprichado, tanto nos diálogos quanto aos personagens, que também procura dar um aspecto de forte vínculo com a realidade para os especiais poderes e para as motivações do Homem-Morcego. A feição ilusional emerge de uma admirável concepção visual, bem como do uso correto, ponderado, de efeitos especiais.

     Pois é assim descortinado o espetáculo que tal filme proporciona. Sem os exageros cômico-farsescos das fitas relativas ao herói, outrora dirigidas por Joel Schumacher em 95 e 97, as quais findaram por soterrar a série, e bebendo parcialmente da fonte das obras de Tim Burton que a iniciaram, realizadas em 89 e 92, porém mantendo uma certa identidade autônoma,"Batman Begins" narra as origens do Cavaleiro das Trevas com uma bem-vinda didática e uma surpreendente desenvoltura. O contexto histórico-social e os aspectos psicológicos do protagonista da história são frisados, bem como as situações apresentadas pelo roteiro se mostram coerentes, além de servirem de escada para boas passagens de ação. Cabe então destacar o mérito de seus escritores, David S. Goyer ("Blade Trinity") e Christopher Nolan, este também condutor do filme.



     A direção de Nolan (realizador dos excelentes "Amnésia" e "Insônia") se mostra segura, competente, e sua credibilidade em transpor uma HQ tão cultuada para a tela grande está alicerçada no coerente e belo trabalho de fotografia efetuado por Wally Pfister (habitual parceiro do diretor, operando nas obras anteriores dele), apropriado de levar aos fotogramas da película a atmosfera sombria dos quadrinhos a ela associados.



     Ao contrário do que muitos pensavam - incluindo este que lhes escreve - Christian Bale se mostra adequado a encarnar Bruce Wayne e vestir a indumentária de Batman. O ator convence, na atuação e na fotogenia, como o personagem-título. Quanto aos papéis auxiliares, estes podem ser divididos em dois grupos, pela qualidade. Os coadjuvantes que se destacam por sua expressividade, como o Alfred de Michael Caine (roubando a cena), o James Gordon do sempre ótimo Gary Oldman e o fleumático Henri Ducard vivido por um Liam Neeson que parece ter enveredado pelos papéis de mestre/mentor, a julgar suas últimas aparições, como em "A Ameaça Fantasma""Kinsey""Cruzada" e aqui. O outro grupo é o daqueles que cumprem sua função sem se sobressair, mas não comprometem. É o caso dos atores Morgan Freeman, Cillian Murphy, Katie Holmes, Rutger Hauer, Tom Wilkinson.

     Juntando qualidade artística com diversão eficaz, "Batman Begins" não apenas dá um novo início à série sobre esse herói, mas também fornece um impulso estrondoso às possíveis continuações (uma delas é sugerida ao final da fita), que, se mantiverem o nível deste, merecem ser muito aguardadas, pois delas se esperam a teatralidade e o ilusionismo que aqui foram os condutores do show. Bem-vinda volta ao princípio.


Artigo originalmente publicado no Cine Revista.


BATMAN BEGINS (idem, 2005).
Direção: Christopher Nolan.
Elenco: Christian Bale, Katie Holmes, Michael Caine, Liam Neeson, Gary Oldman, Cillian Murphy, Morgan Freeman, Rutger Hauer, Tom Wilkinson.


FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.

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