29 de jan. de 2012

Histórias Cruzadas / The Help (2011)


por Luiz Santiago

          Ao que parece, Tate Taylor encontrou um caminho firme para seguir como realizador, depois de ter dirigido a vergonha alheia intitulada Pretty Ugly People (2008), seu primeiro longa-metragem. Histórias Cruzadas é o seu "filme da salvação", uma adaptação da obra de Kathryn Stockett, que mostra algo sobre a opressão e segregação racial no Estado do Mississippi, no início dos anos 1960.

          O elenco feminino, especialmente Viola Davis e Octavia Spencer assumem a glória das atuações, e são as responsáveis por trazer vida ao filme, embora, a despeito da postura afetadíssima das atrizes brancas, todo o elenco mereça destaque - em especial Jessica Chastain, que mesmo afetada, me agradou. E não poderia ser diferente, porque o roteiro traz para o seio da família as intrigas e fofocas locais, e nada melhor para legitimar esse estereótipo do que uma equipe de belas e boas atrizes. Tal é a força do matriarcado, que os atores são relegados para um terceiro, quarto, quinto plano de importância, à exceção do pastor da igreja, que é bem construído dentro de sua pequena esfera e foco de atuação.

          A estridente e expansiva fotografia em amarelo de Stephen Goldblatt é ao mesmo tempo acolhedora e ameaçadora, porque a cor é um motivo recorrente em diversos ambientes, mas seu significado é diverso, de modo que imageticamente, o filme transpassa essa alegria doente e dourada que encobre todo um aparato social e estatal, ou seja, embora fora do tempo, Histórias Cruzadas é uma espécie de “filme de conscientização”. Mas essa vereda ideológica é potencialmente regressiva, e o espectador deve tomar muito cuidado com duas coisas, primeiro, não se deixar levar pela exposição da bondade e atitude de uma mulher branca a favor das negras fracas e oprimidas; segundo, não dar voz à intolerância e tentar aceitar o filme apesar disso. Para mim, valeu a pena.

          É muito raro um filme com verniz pop europeu de mais de duas horas de duração interessar com vigor uma plateia inteira, como é o caso de Histórias Cruzadas. Apesar de trazer em seu roteiro a fixação de um estereótipo sócio-racial que vai acabar passando por “bonitinho” por quase todo mundo, o filme nos reserva momentos de emoção, amizade e rigor técnicos impressionantes. Um reflexo do seu tempo, onde tudo ganha uma versão eufemista (embora alguns casos, como Salt (2010), sejam abomináveis, o que não é o caso aqui), o filme mostra a beleza inexistente em um período crítico da história de seu país, mas, como já foi dito, é preciso que o espectador se livre das amarras (tanto as que lhe tentam impor quanto as que traz consigo) para focalizar algum parágrafo que lhe apeteça no meio dessas histórias cruzadas.


HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help, EUA, Índia, Emirados Árabes, 2011).
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Tate Taylor (baseado em obra de Kathryn Stockett).
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Anna Camp, Eleanor Henry, Emma Henry.
Duração: 2h26min.

FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.


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