18 de ago. de 2011

O Planeta dos Macacos (2001)




por Ritter Fan


     Depois de 1976, com o fim da fracassada série animada baseada na mitologia dos macacos, a Fox mandou todo o material para a geladeira. Só no final da década de 80 é que houve alguma movimentação sobre uma volta ao Planeta dos Macacos com Adam Rifkin no timão. Não deu certo e, logo em seguida, Peter Jackson e Fran Walsh (sim, a dupla que acabaria nos trazendo a trilogia do Senhor dos Anéis) envolveram-se no projeto. Até Roddy McDowall estaria envolvido. Mas também não deu certo. Durante a década de 90, o projeto passou pelas mãos de ninguém menos do que Oliver Stone, Chris Columbus (não ia dar certo, não é?) e até James Cameron.

     Mas somente em 1999 é que a coisa andou de verdade, com um roteiro de William Broyles, Jr. (
Apollo 13 e Náufrago) que acabou chamando a atenção de Tim Burton, recém saído da direção de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Com isso, a Fox finalmente assinou o cheque e um reboot total de Planeta dos Macacos saiu do papel, com um elenco extraordinário para esse tipo de filme.

     O filme, porém, foi destruído pela crítica mas fez uma bilheteria mundial razoavelmente boa de 360 milhões, tendo custado 100 milhões. A crucificação do filme pela crítica certamente foi uma das razões pelas quais a Fox decidiu não seguir adiante com a franquia revigorada.

     No entanto, eu me sinto na obrigação de sair em defesa do filme de Tim Burton. Mas vamos começar pela estória.

     O filme começa em 2029 e nos conta a estória do Capitão Leo Davidson (Mark Wahlberg, suficientemente convincente) que, ao tentar salvar seu chimpanzé Péricles de uma tempestade eletromagnética perto de Saturno, para a qual ele fora mandado como cobaia, cai em um planeta habitado por símios inteligentes e humanos bestiais. Leo partiu contra as ordens do capitão da estação espacial Oberon e a tempestade acaba catapultando-o pelo menos para o ano 2472. Digo "pelo menos" pois o relógio de sua nave só é mostrado até esse ano mas não fica claramente determinado que ele só andou 400 anos no futuro.

     Depois de ser capturado pelos símios em circunstâncias quase idênticas à que Taylor (Charlton Heston) é capturado no filme original de 1968, Leo se une à humana Daena (a bela Estella Warren), a seu pai Karubi (Kris Kristofferson) e a alguns outros em uma fuga. Ele acaba sendo ajudado pela chimpanzé Ari (Helena Bonham Carter), ativista dos direitos dos humanos e pelo gorila Krull (Cary-Hiroyuki Tagawa), seu relutante guarda-costas. No meio do caminho, eles se envolvem com o divertido mercador de escravos orangotango Limbo (o ótimo Paul Giamatti) e todos fogem do insano chimpanzé General Thade (vivido muito bem por Tim Roth), de seu imponente braço direito Attar (Michael Clarke Duncan) e de um exército de símios.


     Na fuga, Leo e sua trupe têm que atravessar a Zona Proibida para chegar na misteriosa cidade de Calima. No meio do caminho, os mistérios do Planeta dos Macacos vão aos poucos sendo revelados. Há pelo menos três surpresas ao final, bem no estilo dos filmes da franquia e, apesar de nenhum deles ser tão sensacional quanto o final do primeiro filme, são suficientemente competentes para prender a atenção, mesmo o último final (nos segundos finais do filme) que, tenho certeza, fez muitos críticos torcerem o nariz incrédulos. Falarei mais sobre o final do filme na "zona de spoilers" mais abaixo.

     Tim Burton optou por mostrar os símios em um estágio evolutivo semelhante ao dos filmes clássicos. É claro que, com a generosa quantia liberada pela Fox, Burton e sua excelente equipe de direção de arte conseguiu resultados bem mais impressionantes que antes. Para começar, a maquiagem é incrível, muito mais natural e, ao mesmo tempo, muito mais completa que aquelas máscaras de macaco que abafavam as vozes e feições dos atores. É perfeitamente possível discernir os traços de Roth, Duncan, Giamatti e Bonham Carter por trás da pesada maquiagem. A equipe de um dos magos das próteses - Rick Backer - foi acionada e o que vemos é pura mágica, especialmente porque era uma aposta arriscada diante da insistência da Fox em usar efeitos especiais, o que foi rejeitado por Burton.

     Outra escolha brilhante de Burton foi a de retratar os símios da maneira mais símia possível sem ficar ridículo. Assim, os símios não só andam como símios como, também, usam os pés para atividades do dia-a-dia como escrever, pulam ágil e poderosamente por todo lado e tem ataques de fúria muito semelhantes aos símios que vemos em zoológicos. Tim Roth como General Thade está especialmente sensacional em sua encarnação símia e aqui a escolha de Burton de usar um chimpanzé, não um óbvio gorila como general e principal vilão, foi outra jogada de mestre. O desprezo - e medo - de Thade em relação aos humanos tornam-se ainda mais incríveis quando vemos isso pelos olhos de um parente tão próximo nosso, bem mais próximo que os gorilas.

     Burton é conhecido por sempre forçar o "estilo Burton" aos seus filmes, com 
designs muito interessantes mas que, de certa maneira, se repetem. Em O Planeta dos Macacos, porém, Burton conseguiu criar um universo bem próprio que, apesar de ainda ter seu toque, não é descaradamente "burtoniano".

     O roteiro é linear e objetivo, seguindo o padrão de chegada no planeta, captura, fuga e revelações. Nada brilhante mas nada que deponha contra o filme. É uma pena que Burton tenha sucumbido aos desejos da Fox de incluir um final chocante como o do primeiro filme, que acaba parecendo forçado, feito exclusivamente para abrir o caminho para uma continuação. Outros detalhes no roteiro, como a velocidade com que os eventos se desenrolam no filme e o uso de um 
deus ex machina exagerado ao final, acabam detraindo do todo, mas não o suficiente para estragar o filme e a diversão.


     Já ia me esquecendo: vale prestar atenção na ponta que Charlton Heston faz nesse filme como um idoso chimpanzé, pai de Thade. Não é só uma homenagem merecida ao seu papel de Taylor no filme original como, também, um momento importante no filme.

     Agora vamos aos 
SPOILERS sobre o final. Quem não quiser saber nada, vai direto para a nota.

     Muita gente viu, incrédulo, um final aparentemente sem sentido para 
O Planeta dos Macacos. Leo, que estava em outro planeta, ao alçar vôo com o pod de Péricles, entra novamente na tempestade eletromagnética e é catapultado de volta para o passado, mais precisamente para o ano de 2155, e vai direto para a Terra. Quando chega lá, Leo dá de cara com uma Washingon D.C. igualzinha à que existe aqui, mas com Thade no lugar de Abraham Lincoln naquela estátua famosa e cercado de policiais e repórteres símios, com roupas iguais às nossas.

     Para entender esse final, temos que entender o começo do filme e o conceito que ele estabelece. Quando Péricles é engolido pela tempestade espacial, Leo vai atrás. Como Leo vai para o futuro, é razoável supor-se que Péricles vai também. Calima, como é revelado no outro final surpresa, é a nave Oberon de Leo que fora ao resgate dele, caindo no planeta. Ou seja, do nosso lado, Péricles vai primeiro, Leo depois e a Oberon por último. Do lado de lá, quem chega primeiro é Oberon, Leo chega em segundo (muito tempo depois pois, provavelmente a Oberon também partiu em resgate somente muito tempo depois) e Péricles chega por último (mas quase junto de Leo pois Leo vai atrás do chimpanzé quase que imediatamente), ajudando o outro final surpresa. No universo estabelecido por Burton, quem viaja no tempo primeiro chega por último e vice-versa.

     Com essa premissa em mente, e aqui precisaremos um pouco mais da dose usual de suspensão da descrença, quando Leo sai do Planeta dos Macacos, teremos que aceitar que Thade, que fica preso na cabine de comando da nave, absorve os conhecimentos que lá estão disponíveis (basicamente todos os comandos da nave e milhões de horas de captura de transmissões da televisão da Terra, como fica evidente no filme) e, de alguma maneira, convence Attar ou talvez outro símio a libertá-lo. Ele então junta equipes e mais equipes de símios para aprender tudo sobre a Oberon e a Terra e, com isso, os macacos dão um salto tecnológico. Nem é necessário acreditarmos que o salto se dá em poucos anos. Pode ser algo que se passa ao longo de centenas de anos facilmente. A figura de Thade, porém, ou de um de seus descendentes, permanece com enorme importância na mitologia símia. Assim, um belo dia, os macacos aprendem a dominar o espaço e voam para a Terra. Ah, o filme não se passa na Terra no futuro mas sim em outro planeta no futuro já que isso fica claro pela forma dos continentes e pela quantidade de satélites que o planeta tem.


     Como eu disse, quem sai por último chega primeiro. Assim, os símios alcançam a terra muitos milênios antes de Leo, talvez na aurora do homem e dominam facilmente os poucos homínidas que encontram na Terra e, a partir daí, criam uma civilização que mimetiza a história da Terra como a conhecemos!

     Ufa! Sei que isso exige um certo exercício mental e uma saudável dose de aceitação de conceitos impostos pelo filme mas, para mim, é a única explicação plausível para esse final. Sei que existe toda uma discussão de que a viagem de Leo não foi só ao futuro mas, também para outra dimensão mas não gosto dessa linha de raciocínio. E, para corroborar o que acho, devo dizer que a explicação acima é muito semelhante ao final do livro de Pierre Boulle, que deu origem à macacada cinematográfica.


O PLANETA DOS MACACOS (Planet of the Apes, EUA, 2001)
Direção: Tim Burton
Elenco: Mark Wahlberg, Tim Roth, Helena Bonham Carter, Paul Giamatti, Estella Warren, Cary-Hiroyuki Tagawa, David Warner, Kris Kristofferson, Erick Avari, Luke Eberl, Evan Parke, Glenn Shadix, Freda Foh Shen, Chris Ellis, Charlton Heston, Linda Harrison



FILME MUITO BOM. FORTEMENTE RECOMENDADO.



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