por Gabriel Neves
Em 2001 a magia saiu das páginas para entrar em telas. Aulas de feitiços, plantas ariscas, corujas-correio, quadros que se mexem, feijõezinhos de todos os sabores e um garoto carismático com um raio na testa, tudo apareceu para satisfazer os fãs dessa grande saga que encantou o mundo com as histórias de J.K. Rowling. Harry Potter e a Pedra Filosofal não é o melhor filme da saga, não possui as melhores atuações e muitas vezes se perde em seu ritmo rápido de tentar resumir 270 páginas em 2 horas e meia. De um modo ou de outro, é o ponto de partida para outros 6 filmes que vieram e 1 que ainda virá, ansiosamente aguardado por um público em massa.
Harry Potter (Daniel Radcliffe) é um jovem órfão que foi deixado na casa dos tios após a morte do pai e da mãe. Onze anos após o ocorrido, ele, que agora funciona como um servo das vontades dos parentes, descobre que é, na verdade, um bruxo. E mais do que isso, um bruxo famoso no mundo da magia, por ter sobrevivido a um ataque mortal. Com essa reviravolta em sua vida, Harry acaba indo para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Mas lá, onde ele deveria estar seguro, acaba tendo que enfrentar um grande problema envolvendo o assassino de seus pais. Junto de seus amigos Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson), eles acabam tendo um ano inesquecível na escola.
A atuação, infelizmente, não é o forte do filme e muito menos da saga. Por mais que os jovens se encantem com a visão adolescente do Harry Potter criado no best-seller literário, Daniel Radcliffe não assume seu personagem do melhor modo possível. Algumas cenas chegam a ser deploráveis com suas caras e bocas e sua falta de expressão em voz. Rupert Grint e Emma Watson conseguem ser mais agradáveis em cena do que o jovem protagonista, mas não é uma melhora tão grande para se ficar marcada. O elenco adulto, por menos participação que tenha, aproveita mais o espaço que tem para criar um personagem. Os tios de Harry Potter, Walter e Petúnia, - interpretados, respectivamente, por Richard Griffiths e Fiona Shaw - são os perfeitos antagonistas da história, e fazem esse papel muito bem, além de conferir comédia pelos inusitados figurinos e movimentos de Shaw e pelas facetas usadas por Griffiths. Ian Hart, Alan Rickman, Robbie Coltrane, Maggie Smith e Richard Harris são outros que conseguem fazer fluir o personagem dos livros e colocá-los, na medida certa, para um filme. Severo Snape e Albus Dumbledore têm suas imagens praticamente colocadas na tela devido à tamanha semelhança entre os atores e o personagem. É simplesmente uma pena que o personagem principal não tenha adquirido uma carga emotiva do mesmo modo que os coadjuvantes.
Mas não se pode culpar o pobre Daniel Radcliffe e o resto do elenco mirim, composto por Grint, Watson e Tom Felton, pelo filme não se sair do mesmo modo que os livros. Aliás, com o crescimento dos atores, percebe-se um amadurecimento cada vez maior e uma ligação ainda mais forte com os personagens. O diretor, Chris Columbus consegue trazer toda a força da trama da melhor maneira possível para se começar uma saga. A experiência dele, que também já dirigiu Os Goonies, Gremlins e Esqueceram de Mim, auxilia a jornada de Harry Potter a prosseguir num ritmo bom para os espectadores conseguirem entender tudo o que ocorre. Porém, por melhor que seja para entendimento, a pressa ainda está presente em cada minutos dos 152 minutos da sessão. A falta de aprofundamento em algumas situações, como a guerra emocional de Hermione e o diálogo entre Harry Potter e outros personagens acaba deixando o drama raso. No fim, apenas uma lição sobre o amor paternal aparece, sem muitas ações que comprovem a veracidade da situação. O máximo que se pode descrever dessa ligação emocional é uma cena onde Harry fica sentado, observando os pais mortos durante a noite inteira num espelho que revela seus maiores desejos. É um salto na carreira de Columbus, mas um episódio de Harry Potter que tem um potencial para algo maior.
Porém, por mais que haja elos fracos no elenco e um ritmo corrido, Harry Potter e a Pedra Filosofal ainda tem seus trunfos. Além de um elenco de coadjuvantes excepcional, os efeitos visuais auxiliam as cenas a colocar a mágica de atos ao alcance do espectador. Criaturas míticas aparecem para alimentar imaginações férteis, palavras mágicas surgem para abrir portas trancadas ou fazer objetos levitarem. É o sonho de qualquer criança se tornando realidade no cinema. A cena onde ocorre um jogo de quadribol é um exemplo de excelente uso dos efeitos, assim como um belíssimo jogo de xadrez onde as peças se movem pelo comando dos jogadores. Cada elemento do cenário completa os movimentos do primeiro plano. Enquanto ocorre um diálogo comum na cena principal, no fundo ainda há velas voando ou pessoas se transformando em gatos para lembrar que, acima de tudo, o filme é mágico. O cenário não poderia ser melhor. O castelo, que dá um ar mais antigo ao cenário, combina com o proposto pelo roteiro, assim como as diversas passagens secretas e a estrutura em si, sem nenhum ar atual. O figurino é muitíssimo bem planejado, dividindo os personagens em times, caracterizando a hierarquia do mundo bruxo sem precisar de indicações muito fortes. A fotografia escura na maior parte do tempo contrasta com as cenas e deixa o conto de bruxaria com uma face mais verídica. E a trilha sonora, composta John Williams, é um primor. Funciona belissimamente, transbordando a emoção que falta pela química dos atores com as situações.
Todos os prós e contras não podem tirar Harry Potter e a Pedra Filosofal do posto que realmente ocupa: um encanto. Em 2001, o mundo parou para ver a transposição de páginas para imagens. O filme agrada visualmente tanto às crianças que veem e sonham com o mundo da magia, quanto os adultos que observam as mágicas e efeitos tomando lugar num mundo que é sério o bastante. Colocar a magia no lugar sempre é uma situação perfeita. As viagens por plataformas de trens imaginárias, escadas que se movimentam e florestas sombrias são artefatos tão mágicos para a plateia eufórica do que propriamente uma varinha mágica. Dez anos depois de sua estreia, ainda é um filme atemporal. Belíssimo e encantador para quem assiste da primeira vez, nostálgico para quem vai assistir novamente. Não importam os defeitos nessa hora, foi um primeiro capítulo competente para segurar o peso do sucesso dessa saga. A mágica começou.
Todos os prós e contras não podem tirar Harry Potter e a Pedra Filosofal do posto que realmente ocupa: um encanto. Em 2001, o mundo parou para ver a transposição de páginas para imagens. O filme agrada visualmente tanto às crianças que veem e sonham com o mundo da magia, quanto os adultos que observam as mágicas e efeitos tomando lugar num mundo que é sério o bastante. Colocar a magia no lugar sempre é uma situação perfeita. As viagens por plataformas de trens imaginárias, escadas que se movimentam e florestas sombrias são artefatos tão mágicos para a plateia eufórica do que propriamente uma varinha mágica. Dez anos depois de sua estreia, ainda é um filme atemporal. Belíssimo e encantador para quem assiste da primeira vez, nostálgico para quem vai assistir novamente. Não importam os defeitos nessa hora, foi um primeiro capítulo competente para segurar o peso do sucesso dessa saga. A mágica começou.
HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (Harry Potter and the Philosopher's Stone, EUA, UK, 2001).
Direção: Chris Columbus
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Richard Harris, Maggie Smith, Robbie Coltrane, Fiona Shaw, Richard Griffiths, John Hurt, Julie Waters, Tom Felton.